UM C.R.Q

UM C.R.Q.

QUATRO ATORES

CENA I

(com muita lentidão, o espetáculo se inicia com três atores com alguma referência egípcia de acessório e uma pilha de tijolos; calmamente, o quarto ator constrói sozinho uma pirâmide considerável)

OS TRÊS
Sabonete, o carro, um foguete espacial
Megabytes, cigarro, anticoncepcional
A roda, a arte, transplante de coração
Um robô em Marte, cinema e televisão

Bem antes de surgir qualquer coisa, qualquer cântico
Flagrantes de real imaginativo: raio gama, aspirina, jogatina, pesadelos, sonhos bons, profecias
Dentro de um computador, bem menor que a sua unha
Um giga orgânico criação do meu Senhor!
Méliès sonhou com a lua
Silvio Santos trabalhou de camelô
Armstrong pisou na chuva
Hoje, eu e você, todos temos celular
Quase que um robô
Que só falta fazer café

Há cinquenta anos se dissesse que a mulher deveria ter os direitos por igual
Entenderiam que você só pode ser uma bicha louca, de outro mundo, retardada, surreal
Há pouco mais de cem, numa praça só de brancos, negros olhavam de fora, e nada de sentar nos bancos que era isso que deus queria e também queria ver a nossa guerra começar

Tudo começou numa particulazinha
Uma imagem que sabe-se lá quem inventou
Dentro da cabeça de um ordinário ser humano
Ele lembra fisicamente, um pouco de mim e de você
É isso que a gente sente, que se chama inspiração
Quando eu descobri, eu disse: isso é insano pra caralho!
E fica fácil, de um mísero bagaço transformamos em multiplicação
De pães, de peixes e maconha. De vinho! Desculpe, qual a diferença?
Tudo isso foi culpa de quem sonha
Quem quis, quem pôs, quem fez
Quem brica, quem canta, quem “seus males espanta”

Somos todos uma antena de transmissão
O tempo inteiro
Literalmente
Se gritarmos com o desastrado garçom
Quem se fode é todo mundo, toda gente

Presentes, não se assustem, sei que parece autoajuda
Mas se eu te conto um segredo, se eu te falo da minha bunda
Eu juro que eu tenho coisas que parecem coincidências
Mas de segunda a segunda, testemunho evidências

Sim! Juro muito de pés juntos!

QUARTO ATOR
Oras, conte mais sobre essas coisas
Não te vejo dirigindo uma Mitsubishi ou um Corola
Bem, falar é fácil
O meu pai me ensinou, pra conseguir tem que suar
Tem que fazer valer as botas
E honrar as nossas bolas
Para as coisas conquistar
Bem, sonhar é fácil
Mas cadê o seu Jaguar?

UM ATOR
E no fim das contas, mesmo suando
Papai sonhou e comprou alguma dessas bostas?
Me diga, valeu tanto trabalhar?

(silêncio)

QUARTO ATOR
ÓCIO.  Argh!

OS TRÊS
Tudo bem, quem define qual tipo de desejo é melhor?
Que tipo de sonho tem mais a ver?
Quem é mais feliz?
Eu que estou aqui, ou você que está aí?
Todo mundo precisa ter um carro pra ser bem sucedido?
Nada é pior, nada é tão grande que não se possa ter, se quiser
Das mãos saem calor, o áudio são partículas físicas
O cérebro funciona como um o querido e amigo wi-fi
Pro meu particular, quem escolhe sou eu, e não você
Pro geral, escolhemos juntos

Você quer, toma aqui
Mesmo se o desejo for do mal
O que importa é a frequência
E quem diz é a ciência
Por favor, vilão, tente ser um pouco mais legal
Tente ajudar o animal, teste a paciência anormal
Pois somos parte de uma coisa só
Em Marte não deve ter só o pó

Onde duas ou mais cabeças pensarem em meu nome
Eu estarei vivamente e perfeitamente e ativamente presente
Pensemos juntos no fim da fome
O que diabos pode acontecer, minha gente?

(black-out)


CENA II

(as luzes se acendem e todos estão num metrô; três deles, bem sucedidos – melhor dizendo, felizes de formas variadas – riem bastante de nada; eles riem exageradamente de tudo, da vida, da janela, do ferro que seguram pra não cair; o quarto ator está desanimado, o único sentado; ele pisca escondendo a tristeza)

(depois de muitas risadas, os três cantam em cânone alguns “Oh”, “Ah” e “La-la-lás”; pode ser também alguns “Dim-dim-dom-dim” ou “thicala catunga kururum auê”, e o que mais; o quarto ator começa a se irritar)

QUARTO ATOR
Essas pessoas que gostam de aparecer
Dizem que sabem de tudo
Que do meu deus devo esquecer
Essas pessoas fingem alegria
Nada é real, é todo mundo fudido nessa harmonia
Nesse bacanal
Nessa putaria de gente querendo ser mais que a outra

TRÊS ATORES
Não, não, não
Você não entendeu
Não deve esquecer de deus
É dele mesmo que estamos falando
Quando foi que pareceu?
Claro que não é desse tirano que o povo prega por aí
Essa explicação comprova milagres reais
Meu irmão
Olha só pra você
No fim, nunca se esqueça de deus
Só quebre a ridícula condição de limitá-lo sem saber
Basta querer abrir os olhos que ele fala com você

QUARTO ATOR
De onde vem tanta alegria que eu não consigo ver?
Eu sou quase um camelo, já até construí pirâmides

TRÊS ATORES
Você quem escolhe
Tá se assumindo um fracassado
A primeira coisa a ser feita
É mudar o discurso falado

Eu sei que é foda, de começo é retardado
Mas assim como a criança devemos ser sofisticados
E sonhar
Senhor, sonhar
Compartilhar nossa esperança
Senhor, sonhar com abundância
Vivenciar o que queremos pro futuro e pros seus filhos

QUARTO ATOR
Amigo, eu já tentei
Eu juro que sonhei
Foi fácil acreditar quando existia tempo
Minha simpatia ao positivismo foi embora com o vento
Todo mundo se comprova com os pés no chão
Filme é filme, sonho é sonho
No real, a coisa não é assim, não
Tem coisa que a gente quer, que a gente jamais irá conseguir

TRÊS ATORES
Um dia um homem quis virar mulher
E hoje é uma coisa fácil com um bisturi

QUARTO ATOR
Mas leva tempo!
Senhores, eu juro que eu tento
Mas o mundo é uma armadilha
A terra gira sozinha, não importe o que eu ache
Nesse exato momento talvez esteja nascendo uma ilha
Uma estrela que brilha
E eu não estou sabendo e sentindo isso
Então não somos uma coisa só
Estamos perdidos
Esperando morrer
É só isso, meu amigo
Somos pó
Pó sou eu e você
(os três atores se comovem, mas logo percebem que às vezes, com algumas pessoas, não tem mais o que fazer e dizer, e voltam à cantoria em cânone com novas combinações de vogais e onomatopeias)

QUARTO ATOR
Esperem! Não irão tentar mais?

TRÊS ATORES
(eles riem)
Temos uma surpresa pra você
Basta você mostrar que vai querer

QUARTO
É claro que eu quero
Eu preciso de ajuda
Mas eu sou cabeça dura
Me desculpem por insistir

Mesmo que haja evidências
Não é fácil pra todo mundo
Não acredito na decência
O ser humano é um bicho mentiroso e imundo

Como vou saber em quem aqui acreditar?
Se minha mãe disse que Maria é a nossa advogada
Minha vó acreditava até em Saci-Pererê
Minha professora é ateia daquelas chatas
E minha tia vê espíritos em você

OS TRÊS
Com que frequência?

QUARTO ATOR
Todo o tempo

OS TRÊS ATORES
Eles querem acreditar
Isso vai acontecer
Se acreditar que existe fadas
Elas vão aparecer
Se acreditar no azar e na comodidade
Você vai se entristecer

Faça tudo o que quiser
Beije e sonhe com o mundo
A energia gira todos os segundos
Sem botão de pausa
Um tesão que acalma

Teste e veja você mesmo
Claro que isso leva tempo e confiança
Sei que dá medo
Volte a ser criança mesmo se está nos cinquenta
O que adianta, quem é que aguenta
Viver só pra esperar morrer?

QUARTO ATOR
Esperar morrer é um tipo de esperança

OS TRÊS
Esperar morrer é uma retardadância.
Fique quieto e venha ver

(os três amarram o quarto ator em uma corda com cintos de segurança; eles cantam cânones românticos e divinos com a mesma linha de sílabas; por fim, a corda puxa o quarto ator para o alto que, instantaneamente, vibra emocionado com a visão)

QUARTO
Oh, meu deus! Meu santo magnífico deus!
Meu esquisito e inesperado poder!
O que é C.R.Q?
(ele gargalha)
Oh, meu deus! O que é C.R.Q?
O que é C.R.Q?
Meu deus, agora eu te pergunto
O que é C.R.Q.?
(gargalha)
(black-out)


CENA III

(quando as luzes acendem todos fumam; uma fumaça bastante espessa toma todo o palco)

TODOS
Muita gente irá dizer que é besteira isso falar
Isso vai comprometer até o conceito sobre nós
Sim, ser sonhador tem suas próprias complicações
Mas posso testemunhar
Magia e previsões

Todo santo dia eu enxergo uma avenida
Quando o sinal tá verde sei que posso atravessar
Essa maquinaria dentro desse planeta louco
Pode tudo, tudo é pouco, tudo o que pode se imaginar
Hora ou outra transbordará sem mesmo perceber
O sinal tá sempre mudando, mas o próprio mato é verde
Use o tempo que não se arrepende
Atravesse sem morrer

Basta ser prudente e ter fé
E ser mais gente humana
Insistência e compaixão
E propagar a fé sem santos
Sem anjos, sem nomes
Não dar crédito à ninguém sem ser você
Da sua mão, sim, sai calor
De uma barriga, por fim, nasce um bebê

(silêncio; um dos atores entra em trabalho de parto; os outros o acodem e o ajudam com a respiração)

UM ATOR
Você não devia fumar. Pode passar para o bebê.

ATOR EM PARTO
Você não devia se importar.
O bebê é meu!

OUTRO ATOR
Ele é nosso.

(o parto se finaliza)

ATOR EM PARTO
O que é C.R.Q.? Afinal que bosta é essa?
Eu odeio usar siglas, ninguém nunca entenderá

TRÊS
Um C
Um cântico
Um R
Romântico
Um Q
Um lance todo quântico
Um cântico romântico e completamente cheio de quiromancia

Já deu pra entender?
O que eu vim defender
Eu posso te dizer, te comprovar com a minha vida
Só tive alegrias, pois tudo o que queria
Surgiu num desses dias que a gente quase nem vê
E quanto mais você perceber
E sempre agradecer
Em breve testemunhará um mundo surreal e animal
Onde quem escolhe o rumo é todo mundo
Onde aquilo que você planta
Brota num segundo, sem dúvida, sem fundo
Sem fim, eterno
Profundo

Não é um autoajuda
É um desabafo de alguém extraordinariamente impressionado com a grandeza dessa porra de loucura que somos

(black-out)


CENA IV

(quando as luzes acendem; um ator está vestido de bebê, com frauda, chupeta e etc, em uma cadeirinha; os outros o vendam e amarram uma mamadeira pendurada em um fio de nylon a uma distância de uns dois metros; posicionam a mamadeira numa mesa, tiram a venda do bebê e saem)

(o bebê, sozinho, fica por alguns segundos apenas brincando sozinho com o próprio pé; logo, ele vê a mamadeira e faz sinal que quer; ele insiste em tentar pegar a mamadeira de longe; ele começa a se frustrar e tenta sair da cadeira; sem sucesso; ele estica bem os braços tentando alcançar a mamadeira, com toda a força do mundo; ele desiste e chora; tenta mais vezes; tenta e tenta)

(um dos outros atores entra com a outra ponta do fio de nylon; sem que o bebê perceba que exista um fio, o ator faz com que a mamadeira chegue até perto da cadeirinha; o bebê a pega e bebe; black-out)

(luz; mais uma vez a mesma cena acontece; o bebê está tentando alcançar a mamadeira; outro ator entra com a outra ponta do fio e faz a mamadeira chegar até o bebê; black-out)

(luz; outra e última vez, o bebê, achando estar sozinho, tenta pegar a mamadeira e ela vem até suas mãos; black-out)

(luz; por fim, com os olhos do bebê vendados, os outros atores cortam o fio de nylon e posicionam a mamadeira no mesmo local de sempre; eles retiram a venda do bebê e saem; o bebê, naturalmente, estende os braços para pegar a mamadeira; os três atores enfiam a cabeça pra dentro da cena e aguardam algo acontecer)

(black-out)


FIM







FALEM DE MIM ENQUANTO ELES ME LAMBEM

FALEM DE MIM ENQUANTO ELES ME LAMBEM

PERSONAGENS
CORA
SAMUEL
GABRIEL
RAFAEL
JACÓ (corifeu)
O POVO (coro)

CENA 1: A PUTA E AS PEDRAS

(o povo está reunido ao redor de Jacó)

POVO
A santidade, a realidade
Os passarinhos são quem sabe escolher
O que é que se pode comer, de quem é a verdade

JACÓ
Ele monta um ninho se protege de você
E as passarinhas vivem sem...

POVO
Vivem sem!

JACÓ
Viram santas, viram gente do bem
Sem a promiscuidade
Só pensando
Na maravilhosa e perfeição que é a continuidade

POVO
Todos escondem – com razão – a sexualidade
Todos se reprimem do tesão
O que importa é crescer a cidade do poder
Pois o olho que tudo vê
Não aceita a prostituição
Não, não quer saber de enrolação

JACÓ
Ficar, beijar, sair, trepar...

POVO
Não!

JACÓ
Curtir, chupar, não pode rolar!

POVO
O gigante olho está observando!
Se está amando ou só sexo propagando.
Se está em ordem ou se está a se deixar
Influenciar pela força mais incrível que é o caralho do desejo. Ah!

JACÓ
Ah! Não!

TODOS
Ai, que medo desse novo mundo, dessa nova era
Ai, que saco, ninguém nunca entende
Já não sou macaco, hoje somos gente
Puta merda, se deus disse isso
Qual é o seu problema?
Temos que seguir
Infelizmente, essas são as regras
Mas se quer ser gente tem que enfrentar a lei do salvador
Do nosso senhor
Que é o seu senhor
Que é o meu senhor
Que é o senhor dele, e daquela vagabunda
É o senhor de todo mundo, não fui eu quem disse
Não importa o que você quer!

(alguém do povo entra arrastando Cora)

JACÓ
Aí, está você.

POVO
Ordinária!

CORA
Filhos da puta!

JACÓ
Ó, que eu mando fazer igual faziam antigamente, menina. Antigamente eles faziam muito pior!

CORA
Eu não tenho medo. Faça o que quiserem! Tenho outras coisas pra me preocupar. Porra, que saco! Eu tava de boa, na minha.

JACÓ
Na sua o caramba! Tudo o que você faz aí pelo mundo influencia na minha realidade.

POVO
E na nossa!

JACÓ
Não queremos mais uma puta na nossa região.

CORA
O que? Do que você me chamou?

JACÓ
Exatamente. Até ontem você era uma garota. Agora você está virando mulher e está fazendo a cabeça dos nossos varões.

POVO
Exato! Puta!

JACÓ
Tenho pena dos seus pais, Cora.

CORA
Não tenha pena de ninguém, Jacó. Você quer me castigar por eu fazer diferente de todo mundo. Pois então me castigue. Vamo logo com essa palhaçada.

JACÓ
Além do castigo, você será exilada.

CORA
O que?

JACÓ
Não queremos mais você por aqui.

POVO
É!

CORA
Vocês estão brincando, não é, gente?

POVO
Não queremos mais nenhuma puta.

CORA
Puta é a mãe de vocês! Mas meu deus do céu, Jacó! E eu vou pra onde? Eu não conheço ninguém lá fora.

JACÓ
Você deve arcar com as consequências de seus atos, Cora. Isso, se você sobreviver, né?

CORA
Mas, Jacó...!

JACÓ
Chega. Todo mundo com a pedra em punho!

(todos levantam pedras)

CORA
Jacó, pelo amor de deus! Querem me apedrejar, que me apedrejem! Mas eu vou pra onde?

JACÓ
Atenção!

CORA
Jacó!

JACÓ
Apontar!

CORA
Jacó, pra onde eu vou?

(black-out)

JACÓ
FOGO!


INTERLÚDIO

(instantaneamente, um foco destaca Cora em pé e calma)

CORA
Esses dias eu estava vendo uns vídeos sobre a vida dos macacos. Sabem como eles sobrevivem? Eles comem, aí eles dormem, e aí eles trepam. Todo dia! Todo santo dia. É essa a rotina deles. Eles estão comendo alguma fruta assim, aí um olha pro outro, e de repente, metem. Aí outro tá deitado, o outro passa e metem. Aí o pai come a filha, a mãe dá pro sobrinho, e metem. Metem, metem, metem! Velho com jovem, homem com homem, mulher com mulher. Uma putaria que só, viu! E aí eles sempre no relax. Sempre na boa. Sem julgamentos, sem perigos. A prática “voyeur” é inexistente porque alguns metem com o filho pendurado no pescoço e tudo o mais, então não existe motivo pra nomear. Uma loucura. Mas pelo meu ver, sabe, uma ótima loucura.


CENA 2: O PRIMEIRO CAVALHEIRO

JACÓ
(em off) FOGO!

(as luzes retornam para a cena do apedrejamento; Samuel sai da multidão)

SAMUEL
Parem! Parem! Por favor!

CORA
Deixe eles me apedrejarem, Samuel! Mas não deixe que me expulsem daqui!

SAMUEL
Eles vão te apedrejar até a morte, Cora.

CORA
Eu só não quero ser esquecida. (ela chora) Não deixe que me enterrem longe daqui.

JACÓ
Qual é a sua defesa, Samuel?

SAMUEL
Jacó, será que – mesmo que a gente tenha ultimamente propagado por aí que somos modernos e liberais –  tudo isso não continua sendo um meio muito antepassado? Acho que deus não quer que façamos isso com ela.

JACÓ
E você sabe me dizer o que é que deus quer, meu querido?

SAMUEL
Santidade, eu sei, Jacó. Eu sei que é isso que ele quer. Mas baseado em qual modelo?

JACÓ
No de sempre. Deus não muda e nunca mudará.

CORA
Mas a gente muda!

SAMUEL
Todos nós aceitamos a descoberta do fato de que realmente descendemos do macaco, certo? Vocês já aceitaram isso, também, não?

POVO
Sim, aceitamos/É.

SAMUEL
Então porque essa regra ainda finda? Em pessoas tão sensatas e inteligentes.

JACÓ
De qual regra você está se referindo, Samuel? Sexo?

SAMUEL
Exatamente. Sexo, Jacó. Sexo. De onde é que vem o crime?

JACÓ
Além das doenças e de gravidez – que os macacos não se importam muito – tem todo o lance da troca energética que tanto discutimos. Não acho que devíamos fazer essa troca de fluído com muita frequência.

CORA
E por que não, meu deus?

(alguém atira uma pedra)

CORA
Ai!

SAMUEL
Ei!

ALGUÉM
Pensei que já era pra tacar.

SAMUEL
E por que, não, Jacó? Ninguém é igual a ninguém. Ninguém sabe como funciona o corpo do outro. Se ela quer ser uma... uma...

CORA
Uma o que? Uma puta, é isso que você ia dizer?

SAMUEL
Exatamente! Qual o problema de alguém querer ser puta? Quem define o tamanho de putisse? Tem tantas piores filhas da putisse por aí, que a gente devia se preocupar. Deixa ela fazer o que quiser. A buceta é dela e pronto. Eu não entendo de onde veio esse medo de pessoas sexualmente ativas.

ALGUÉM 1
Por que tá defendendo ela assim tanto, hein?

ALGUÉM 2
É. Tem alguma coisa estranha nessa história!

JACÓ
Tem alguma coisa de muito estranho o fato de você defende-la. Não temos esse costume por aqui.

POVO
Aposto com todas as unhas do meu dedo de que você também foi um desses que comeu ela.

(silêncio)

SAMUEL
Vocês estão viajando. Eu ainda sou virgem. Eu vou me casar!

CORA
Não tire o seu cu da reta, Samuel. Se fez, assuma. Eu não posso me fuder sozinha. Para de ser mentiroso!

SAMUEL
Caralho, eu tava tentando te ajudar, menina.

CORA
Me ajude morrendo comigo. Não era isso que você me dizia?

SAMUEL
Estávamos no calor da situação. Eu namoro.

CORA
Seu filho da mãe. (revela) Esse homem me possuiu prometendo amor eterno!

(alguém mulher sai de cena chorando; Samuel fica aflito)

CORA
Ele me pediu em casamento e depois a gente fez muito sexo. Muito sexo. A noite toda. Ele (aponta para alguém) viu tudo. (o alguém nega) Viu! Viu sim! Ele ficou espiando a gente por uma fresta na porta que eu vi! E foi mais de uma vez!

(Jacó surge com um revólver e mata o “voyeur”)

POVO
(para a plateia) Essa prática não necessita nem de julgamento. (alguns levam o corpo pra fora)

JACÓ
Mas e você?

CORA
Eu o que?

JACÓ
Disse sim ou não?

CORA
Eu disse...

SAMUEL
Não. Ela disse não.

(silêncio)

CORA
Eu sou de ninguém. Eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também.

JACÓ
Preparar!

SAMUEL
Pelo amor de deus, Jacó!

JACÓ
Apontar!

(todos levantam as pedras)

CORA
Não!

JACÓ
FOGO!

(todos atiram as pedras em Samuel; depois das pedras, eles o espancam com chutes e pauladas; Samuel morre; Cora não entende o que aconteceu)

CORA
Oh! Por que fizeram isso? Samuel, meu querido.

JACÓ
Você disse não, e assim mesmo ele aceitou se deitar com você.

CORA
Mas eu disse sim em me deitar com ele.

JACÓ
Por isso mesmo que você será a próxima.

CORA
Ele será enterrado aqui?

JACÓ
Sim.

CORA
E eu?

JACÓ
Bem longe daqui.

POVO
Não queremos cadáver de puta na nossa região.

CORA
Por favor...

JACÓ
Preparar.

CORA
Jacó, tenha piedade. Eu tento não ser mais puta.

JACÓ
Apontar!

CORA
Jacó! Eu chupo seu pau! Eu chupo!

JACÓ
FOGO!

(black-out; música triste)


INTERLÚDIO 2

(um foco destaca Cora novamente)

CORA
Em casa ninguém nunca falou de sexo. E aí quando eu descobri o que era eu fiquei mais curiosa do que nunca. Poxa, qual é o tamanho desse tabu? E era grande, viu. Um puta de um tabu. Principalmente, por aqui. Não sei como é na vida de vocês. Mas tipo: (inicia uma filosofia) Meus pais transam todos os dias, que eu já ouvi. Minha mãe casou virgem, meu pai eu não sei. Porque a gente nunca sabe, né? Então, eles, casados e cristãos puderam ter a vida sexual bacana sem comentários e difamação. (pausa) Agora, a minha curiosidade se formou em conhecer o sexo do outro, entende? A dúvida, sabe? Eu não me contentaria em me casar e conhecer só um sexo pelo resto da vida. O mesmo pinto todo santo dia. Eu não me contento com um parceiro fixo que dure mais de um mês. Então qual é o problema de eu meter todo santo dia, mas com pintos diferentes? Me diz. Qual é o problema? Eu gosto disso. Eu me sinto bem nisso. Enquanto o povo tá queimando a língua falando mal de mim, as línguas dos meus homens percorrem por todo o meu corpo. E eu gozo. Eu gozo todo dia. Eu gozo da vida, dos prazeres que deus deixou na minha carne. E porra, eu não quero brincar de reprimi-los. Se vocês querem, tudo bem, eu os respeito. Mas não me obriguem. Por favor, já faz tanto tempo, isso. Tanto tempo com essa crueldade. (pausa) Uma língua às vezes machuca mais que uma pedrada. 

(Samuel, Gabriel e Rafael entram em cena e eles se esfregam em Cora; todos os quatro se deliciam com beijos e carinhos)

CORA
E nem brincar de reprimir experiências, por favor, não me obriguem.

(alguém mulher entra junto na orgia; ao som de uma música, todos se comem)


(black-out)


CENA 3: OUTROS CAVALHEIROS DUVIDOSOS

(ouve-se a repetição da cena antes do apedrejamento)

CORA
Jacó, tenha piedade. Eu tento não ser mais puta.

JACÓ
Apontar!

CORA
Jacó! Eu chupo seu pau! Eu chupo!

JACÓ
FOGO!

(as luzes se acendem; Gabriel entra na frente de Cora)

GABRIEL
Não! Por favor!

POVO
Porra, o que é agora?

GABRIEL
Por favor, gente. Eu acho que o Samuel tinha razão. A Cora é uma pessoa gente finíssima. Tudo bem que ela é meio pervertida. Mas será que a solução pra transformamos nossa comunidade num local de santidade e paz é essa? Apedrejá-la até a morte? E o pior! Enterrá-la longe daqui pra ser esquecida pra sempre?

JACÓ
Gabriel, você é jovem ainda. Deverá entender quando ficar mais velho.

GABRIEL
Ela foi uma boa amiga pra mim. Eu não queria que ela morresse.

JACÓ
Todos nós temos que arcar com as consequências do pecado dos outros.

GABRIEL
Será?

JACÓ
Você também se deitou com ela, Gabriel?

GABRIEL
Não! Não, eu juro!

POVO
Será?

GABRIEL
Eu juro! Eu jamais faria uma coisa dessas!

CORA
E por quê? Por que jamais faria uma coisa dessas?

GABRIEL
Não é nada pessoal, querida. Só tenho medo de pegar alguma doença.

CORA
Eu me protejo, tá bom, Gabriel? Você sabe disso. (se lembra) Ah! Já sei o que é...

GABRIEL
Cale essa boca, Cora. Pelo amor de deus.

CORA
Não, tudo bem. (baixo) Então me tira dessa.

GABRIEL
(baixo) Eu tô tentando. Não abra essa matraca!

JACÓ
O que é que tá acontecendo aí?

GABRIEL
Não é nada, Jacó.

POVO
Tem alguma coisa de estranha o fato de você defende-la, Gabriel.

GABRIEL
Ela é só uma amiga, é só uma amiga, eu juro!

JACÓ
Não temos nada referente a amizades com putas. Temos?

ALGUÉM 1
Diga com quem andas que eu te direi quem és.

ALGUÉM 2
Aonde a vaca vai, o boi vai atrás.

(silêncio)

GABRIEL
É possível um homem virar puta? Não, jamais será possível.

CORA
Pois é. A mulher sempre fica com a má fama.

GABRIEL
Pois é. Eu nunca me deitei com ela. Só fiquei chateado de não ter mais com quem conversar.

JACÓ
Quando a mulher é puta e vive na prostituição, o homem que anda ao seu lado e não a come – seja pelo motivo que for –, esse homem só pode ser...

POVO
Só pode ser...?

JACÓ
Preparar!

CORA
Ai, meu deus! De novo!

JACÓ
Apontar!

(todos levantam pedras)

GABRIEL
Pense bem, Jacó! Ela pode nos ser útil no futuro!

JACÓ
FOGO!

(todos atiram as pedras em Gabriel; o espancam até a morte, igual da outra vez)

CORA
Meu amigo. Meu amigo Gabriel. Oh, meu deus.

JACÓ
Ele era, não era?

CORA
Não sei do que está falando.

JACÓ
Eu sei que ele era.

CORA
Eu não sei de que porra que você está falando, Jacó. Ele era uma graça de menino.

JACÓ
Mas era bicha, não era?

CORA
Era! Era! E daí? E daí, caralho? Ele nem nunca tinha transado ainda. Mas ele sabia que gostava de meninos. Virgem devia ser apedrejado? Devia?

JACÓ
Apenas adiantamos um problema do futuro.

CORA
Aquele ali, ó (aponta para alguém). Ele espiava todo dia o Gabriel se masturbando. (ele nega) É sim! Eu sei! Pode parar que eu sei!

JACÓ
O que?

CORA
Sim. O Gabriel sabia e deixava a janela aberta de propósito. Isso é um tipo de voyeur, não é?

(silêncio)

ALGUÉM
Eu...

(Jacó atira nesse alguém; outros retiram seu corpo de cena)

JACÓ
Estamos fazendo uma limpa do pecado no dia de hoje, meus queridos. E da amoralidade.

POVO
Graças a deus.

JACÓ
Mas a principal desse caso ainda está limpa. Vamos acabar logo com isso.

CORA
Esperem! Esperem! Eu não sou de fofocar, mas se é pra ser justo, que assim seja. Tem mais alguém aqui que poderia me defender. Eu sei que ele deve estar se cagando de medo porque ele é um bundão. Mas eu espero que ele tente. Assim, eu talvez pudesse acreditar nas suas promessas. Eu sei que você sabe que é de você que eu estou falando.

(silêncio)

JACÓ
E quem é esse porra?

POVO
Quem é esse pervertido?

CORA
Eu não vou dizer. Quero ver a prova.

(silêncio)

JACÓ
Bom, então... Preparar. Apontar.

(todos levantam as pedras)

JACÓ
FOGO!

(silêncio; ninguém se move)

JACÓ
Bom, calma. Vamos tentar de novo. Preparar. Apontar.

(todos levantam as pedras de novo)

JACÓ
FOGO!

(ninguém se move)

JACÓ
Porra, se entrega logo, meu. Facilita a nossa vida aí.

(Rafael se destaca)

RAFAEL
Tá bom! Tá bom!

JACÓ
Puta que o pariu. Todo os três com nomes de anjo. É muita referência descarada.

CORA
Rafael! Eu sabia! Eu sabia que você ia me defender! Eu aceito! Agora eu aceito me casar com você.

RAFAEL
Sua interesseira. Só porque se eu me casar, eu assumo a sua putisse. Nada disso. O negócio é o seguinte. Eu confesso. Eu comi essa vagabunda algumas vezes mesmo.

POVO
Ordinário!

JACÓ
Preparar!

RAFAEL
Calma! Eu confesso que comi. Mas eu gostaria de dizer que eu fui uma vítima nisso tudo.

CORA
O que?

RAFAEL
Exato. Eu sou uma vítima nessa história.

CORA
Uma vítima é o caralho! Jacó...

RAFAEL
Você sabe como a gente funciona, Jacó. Não sabe? Não sabe?

JACÓ
Sei.

RAFAEL
O homem e a mulher são completamente diferentes, Jacó. Elas vivem na base do sentimento e a gente do instinto. Elas conseguem muito bem viver sem.

CORA
Cale essa boca! Essa foi a coisa mais idiota que eu já ouvi na minha vida!

RAFAEL
E aí você sabe como é, né? Ela cresceu, era uma menininha e de repente espichou, e aí começou a usar essas sainhas curtas, esses decotes, começou a rebolar... E aí o que você acha que passou pela minha cabeça, Jacó? Eu duvido que eu fui o único daqui. Se eu tiver que ser apedrejado metade aqui tem que ser também. Porque todo mundo já olhou pra bunda dela.

(todos se olham se ameaçando com as pedras)

RAFAEL
É verdade, Jacó. E aí ela passou rebolando, mostrou a buceta por de baixo do vestido e eu tive que comer, poxa! Ela tava pedindo pra eu meter rola. Não tava? Você gostaria que depois o povo espalhasse por aí que eu sou viado? Eu tive que comer, Jacó. Ela me seduziu.

(silêncio)

JACÓ
Bem... o que vocês acham?

(o Povo se olha questionando-se)

JACÓ
Se apedrejarmos ele, teremos de apedrejar metade de vocês.

(silêncio)

JACÓ
Então...?

ALGUÉM 1
O Rafael é um cara gente boa.

ALGUÉM 2
É tudo culpa dessa puta, Jacó. Devíamos ter matado ela lá no começo, já.

ALGUÉM 3
Precisamos nos livrar das putas, não de suas presas.

JACÓ
Decidido. A puta deverá ser esquecida.

RAFAEL
Amém.

CORA
Não!

(black-out)


INTERLÚDIO 3

(quando a luz acende, todos os personagens se tornaram macacos; eles comem, dormem e trepam; eles revezam em quem faz fêmea e quem faz macho; aos poucos, de alguns casos específicos de sexo, o grupo forma uma orgia completa; Cora se destaca como humana no meio dos bichos)

ALGUÉM 1
Ela é uma putona!

ALGUÉM 2
Já viu o tipo de música que essa mulher ouve?

ALGUÉM 3
Eu teria nojo de pegar uma mulher assim.

ALGUÉM 4
Fica dando pra todo mundo que vê na frente. Deus tá vendo, deus tá vendo.

CORA
Podem falar o que quiser. Vocês falam, falam. E eles me engolem.

(muitos lambem Cora dos pés a cabeça enquanto outros gritam xingamentos machistas)

POVO
A santidade, a realidade
Os passarinhos são quem sabe escolher
O que é que se pode comer, de quem é a verdade

CORA
Ele monta um ninho se protege de você
E as passarinhas vivem bem...

POVO
Vivem sem!

CORA
Vivem bem, comem homem e mulher também
Com bastante promiscuidade
Só pensando
Na maravilhosa e perfeição que é a prostituição

Ninguém devia esconder – com razão – a sexualidade
Nem reprimir o seu tesão
O que importa é crescer a qualidade do foder
Pois o olho que tudo vê
Ele não tá nem aí
O cu é seu e meu
Só mete a mão quem eu querer
Só mete a mão quem você quiser
Só dá uma lambida quem você deixar
Quem conseguir te erguer, quem conseguir te amar

TODOS
Deixe que as más línguas, esporrem o que pensar
Sinta as boas línguas por seu corpo atravessar
A língua idiota, a pedra chupará
E a língua liberta
Logicamente nos trará
Transcendência
Nos ensinará a amar, fará nos entender
Entender como falar, falar pra se entender
Conversar e discutir, trepar pra agradecer
Discutir e se acalmar, trepar pra se aquecer
Trepar pra viajar
Trepar pra namorar
Trepar pra dizer oi
Trepar para jantar
Trepar com um, com dois
Com a vaca e com o boi
Trepar pra ensinar
Trepar para deixar o seu fluído se espalhar
Trepar, oh, trepar

CORA
Deixe que as más línguas, esporrem o que pensar
Sinta as boas línguas por seu corpo atravessar
E goze

POVO
E goze!

(silêncio)

POVO
Não!

(black-out)


CENA 5: A MORTA

(as luzes se acendem; todos estão na mesma posição do início do espetáculo)

CORA
Jacó, pelo amor de deus! Querem me apedrejar, que me apedrejem! Mas eu vou pra onde?

JACÓ
Atenção!

CORA
Jacó!

JACÓ
Apontar!

CORA
Jacó, pra onde eu vou?

JACÓ
FOGO!

(todos os personagens congelam, exceto Cora, que se destaca em um foco; todos olham para Samuel aguardando sua entrada; Cora desiste e decide falar)

CORA
Ouvi dizer que quando a gente tá pra morrer a gente vê uma porrada de coisas. Alguns veem coisas do passado, conversam com gente que já morreu, veem uma luz no fim do túnel. Outros pensam nas coisas que acreditava. Nos deuses, nos santos. E naqueles últimos segundos que seu cérebro respira o oxigênio, todas essas coisas se fazem verdade ali dentro. Você realmente acha que está indo para os braços do pai, pouco antes do black-out no cérebro. Pouco antes dos raios, que movimentam quem somos, se desligarem por completo. (pausa) Alguns outros, quando estão para morrer, criam toda uma situação de fuga daquele caso. É o meu caso. (pausa) Nenhum dos meus três cavaleiros se quer tentaram me ajudar, na verdade.

(Samuel, Gabriel e Rafael erguem as pedras)

CORA
Foi tudo coisa daqueles últimos segundos de criatividade desesperada da minha cabeça. Como sempre, tentando fugir da realidade.

(todos atiram as pedras em Cora; black-out)

POVO
(aleatoriamente) Puta/Foi você quem pediu/Tava pedindo/Biscate lazarenta.


CENA 6: O PEDIDO

(quando as luzes se acendem, Cora está sozinha, nos últimos suspiros; Samuel, Gabriel e Rafael entram com flores; eles depositam os buquês ao lado de Cora e aguardam; talvez, um segundo de arrependimento)

CORA
Por favor...

SAMUEL
O que?

CORA
Eu...

GABRIEL
O que foi, querida?

CORA
Eu... quero...

RAFAEL
Você teve o que mereceu, Cora. Antes, as pessoas apenas falavam mal. Mas elas falavam mal para o seu bem. Pra ver se você endireitava...

CORA
Por favor... um último... um último pedido...

RAFAEL
Não.

SAMUEL
Aceite a morte, Cora. Será menos dolorido.

GABRIEL
As putas e as bichas devem morrer, amor. Você deve entender. É pra nossa continuidade.

CORA
Um pedido...

RAFAEL
Não. A realidade é que ninguém ouve as prostitutas.

(silêncio; os três saem)

CORA
Um pedido...

(Jacó entra)

JACÓ
Sim, querida. Ainda está viva.

CORA
Não me enterre longe, Jacó. Eu não... eu não quero ser esquecida...

(silêncio; Jacó se aproxima e acalma Cora)

JACÓ
Chiu. Vai ficar tudo bem. Apenas durma, Cora. Durma.

CORA
Um último pedido, Jacó.

JACÓ
Sim, pode dizer.

CORA
Eu quero... eu gostaria... eu gostaria...

JACÓ
Sim, querida.

CORA
Eu gostaria de ser lambida uma última vez. Um último gozo, pelo amor de... (ela suspira difícil por alguns segundos e morre com os olhos abertos)

(silêncio; Jacó fecha os olhos dela e faz sinal de negativo com a cabeça; ele olha para todos os lados verificando se alguém está por perto; por fim, seguro, mas nervoso, Jacó levanta o vestido de Cora, abre suas pernas e lambe a sua buceta com bastante gosto; auge do clímax musical)

(o Povo entra e canta ridiculamente contente; o extremo do tosco musical)

POVO
Hipocrisia, hipocrisia
Fala mal da putaria
Hipocrisia, hipocrisia
Fala mal, mas bem que participaria
Tchan, tchan, tchan!

(black-out; silêncio)

CORA
(sussurra) A santidade, a realidade
Os passarinhos são quem sabe escolher
O que é que se pode comer, de quem é a verdade...


FIM









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