TARSILA E O HOMEM
QUE COMIA GENTE
De Gabriel Tonin
PERSONAGENS
Tarsila do Amaral, senhora
Menina
Tarsila do Amaral, jovem
Anita Malfatti
Oswald de Andrade
Mário de Andrade
Menotti Del Picchia
Tata Miriã, governanta
Tarsila, criança
CENA
1
(UMA PRAÇA; A MENINA ESTÁ PINTANDO UM QUADRO.
TARSILA SENHORA ENTRA)
MENINA
Oi, dona! Achei que a senhora não viria hoje.
TARSILA
Senhora
não, por favor.
MENINA
Desculpe.
TARSILA
Vim alimentar os pombos, como sempre. E me encontrar
com minha amiga.
MENINA
Ah. E ela não veio?
TARSILA
Veio. Estou conversando com ela.
MENINA
(ELA OLHA PRA TRÁS SEM ENTENDER DIREITO) Eu sou sua
amiga?
TARSILA
Ué. Tem mais alguém aqui hoje que eu não estou
vendo?
MENINA
Não, sou só eu mesmo.
TARSILA
Então deve ser você mesmo, né?
MENINA
É, deve ser eu!
TARSILA
O que está desenhando aí hoje?
MENINA
A senhora.
TARSILA
Nossa Senhora?
MENINA
Não! Você! Eu estou desenhando você!
TARSILA
Eu? Por que eu? Não tem coisa melhor pra desenhar
não?
MENINA
Por que não a senhora? Essa foi a pergunta que
eu me fiz. Eu quis fazer um retrato de você. Deixa eu te contar. Você vai ficar
super famosa no mundo inteiro!
TARSILA
É que... eu já fiz um desenho de mim mesma. Um autorretrato.
MENINA
Ué, então... eu estou fazendo uma releitura. Um
remake. Ouvi na escola esses dias: “nada se cria, tudo se copia”.
(ELAS RIEM)
TARSILA
Tem razão. Posso ver?
MENINA
O que?
TARSILA
O desenho, oras!
MENINA
Ah... Melhor não. Não ficou muito bom. (COMPARA)
Acho que ficou meio torto. Deixei o seu nariz muito grande, a orelha... meio desproporcional.
TARSILA
Magnífico! Acho magnífico coisas desproporcionais!
MENINA
Não! Tenho vergonha. Quer saber? Nem tem muita
importância, é só um passatempo.
TARSILA
Ah, mas não é justo. Você me desenhar e não deixar
eu ver o desenho da minha própria versão que tá aí dentro da sua cachola.
MENINA
E se eu te ofendo com a minha releitura da sua cara?
E se você achar que eu te acho feia? Porque eu te acho linda! Mas meu desenho
tá feio...
TARSILA
Não é possível você me ofender com isso, menina. Em
arte, o feio pode ser belo e o belo pode ser feio! É igual... como se fosse
mágica!
MENINA
Eu ainda tô aprendendo a desenhar, tenho um pouco de
vergonha de mostrar assim, ainda mais pra você...
TARSILA
Eu também nunca parei de aprender, se você quer
saber. E acho que nunca vou parar com esse aprendizado. Cada quadro é uma
tentativa, vou morrer aprendendo. Cada tentativa é uma obra de tentativas! De
uma ideia sua, e mesmo que seja um remake, uma cópia, uma homenagem. E ela
tendo importância pra mim ou não, eu gostando ou não, agradando as pessoas ou
não, isso não interessa! Se teve importância pra você, é isso o que mais
importa.
MENINA
Não sei. Acho que as cores ficaram um pouco... meio
caipira. Você não vai gostar.
TARSILA
Caipira... Já ouvi isso antes. Não foi uma das
piores coisas que já falaram.
MENINA
Você é aquela pintora famosa, dona. Imagina se eu
vou mostrar qualquer desenho meu assim, desse jeito. Tô só brincando de
desenhar mesmo.
TARSILA
Deixa eu ver!
MENINA
Não!
TARSILA
Eu duvido muito que você veio aqui no lugar de
sempre desenhar a minha cara e não quer que eu dê minha opinião.
MENINA
(SILÊNCIO) Bom, eu até tava com isso na cabeça. Mas
não ficou como eu esperava. Acho que você vai me achar uma amadora boboca.
TARSILA
Eu amo os amadores, prefiro os amadores, minha
querida. Os amadores são aqueles que fazem por amor! Você não precisa esperar
aprovação por aquilo que tá na sua cabeça, menina. Arte não é só sobre o que é
belo. (SILÊNCIO) Deixa eu te contar uma história. Uma vez, eu estava com uns
amigos num bar em São Paulo. Foi pouco depois da semana da arte moderna de
1922, um marco histórico para a arte brasileira na luta contra o
conservadorismo artístico...
CENA
2
(UM BAR; TARSILA JOVEM, ANITA, OSWALD, MÁRIO E
MENOTTI ESTÃO RODEADOS EM UMA MESA; ELES CANTAM FELIZES)
TODOS
Formamos
o Grupo dos Cinco
MARIO
Sou
Mario de Andrade
ANITA
Anita
Malfatti
MENOTTI
Menotti
Dell Picchia
OSWALD
E
Oswald de Andrade
TODAS
E
a grande protagonista legal
Mulher
genial
Moderna
Amaral
Tarsila...
Menina
caipira do interior
Surreal,
luta social
Antropofagicamente...
História
do homem que come gente!
Tarsila...
Viva!
TARSILA
Vocês estão todos bêbados, senhores e senhorita.
Agradeço a bela homenagem, mas não há protagonismos. Somos todos artistas em
luta, artistas de rua, artistas de lua, de igual pra igual. É 1922 e ainda temos
que lutar pelo que óbvio. O descuido com a arte é preocupação eterna, meus
caros amigos, e temos a pequena chance de fazer história. Mesmo que ela seja
uma história pequena.
OSWALD
Não será pequena, Tarsila! Isso ficará pra história!
Pro pódium das histórias grandes!
MENOTTI
Vejo os jovens do novo milênio que se aproxima
louvando os nossos feitos!
ANITA
Não exagera! Muita coisa pode acontecer nesse
caminho. A caminhada passa rápida, mas é lenta. Eu me sinto uma amadora ainda e
é fácil pra vocês homens falarem, né?
TARSILA
Amante, Anita! Amadora amante!
MARIO
Mas essa semana foi uma semana importante para nós,
artistas desse tempo, do tempo presente! Não do tempo futuro e nem do tempo
passado. A luta tá só começando!
OSWALD
Quero fazer um brinde por esse semana importante
para o Brasil e para o mundo moderno! E por nossa querida e eterna Tarsila do
Amaral, mesmo tendo chegado com breve atraso!
TARSILA
Ora, por favor...
OSWALD
Um brinde, companheiros!
TODOS
Um brinde!
TARSILA
À arte!
TODOS
À arte!
OSWALD
À Tarsila!
TODOS
À Tarsila!
TARSILA
(SEM GRAÇA) Parem com isso...
(TATA MIRIÃ SE DESTACA EM UM FOCO FECHADO; ELA CANTA
ALGUMAS OBRAS DE TARSILA)
TATA MIRIÃ
O
Sagrado Coração de Jesus
Da
Caipirinha no Rio de Janeiro
Natureza
Morta Com Relógios
Retrato
de um amor
Que
pouco durou
O
Estudo Nu
E
o que ficou mais famoso foi o Abaporu
Carnaval
em Madureira
Cuidado
com a Cuca
Antropofagia
Te
come de lá, te come daqui
Com
meu Chapéu azul
E
o que ficou mais famoso foi o Abaporu
Um
autorretrato, um espelho pintado
Romance
e um pescador
A
Negra presente!
Favela
do Morro
Família,
São Paulo, Paris
E
Capivari
Coração
de Jesus
Num
desses vendedor de frutas
Na
feira
Religião
brasileira
O
Ovo ou Urutu
E
o que ficou mais famoso foi o Abaporu
A
Lua
Num
Cartão Postal
A
luta
Social
dos Operários
Na
rua
Ilegal...
Coração
de Jesus
E
o que ficou mais famoso foi o Abaporu
TODOS
Coração
de Jesus
E
o que ficou mais famoso foi o Abaporu!
Coração
de Jesus
E
o que ficou mais famoso foi o Abaporu!
OSWALD
Viva Tarsila do Amaral!
TARSILA
Chega!
TODOS
Viva!
TARSILA
Isso é uma mentira! Só me exaltam na Europa. Aqui,
ninguém dá bola. Caipira, dizem, e é o melhor que dizem sobre mim! Só vão se
importar quando a gente morrer, e olha lá!
(A MENINA INVADE A CENA; JUNTANDO PASSADO E FUTURO)
MENINA
Conta pra gente a história desse mais famoso de
todos, senhora?
TARSILA SENHORA
Senhora?
MENINA
A história do homem que comia gente!
MENOTTI
Essa é uma história fenomenal!
MARIO
Uma lenda antropofágica e surreal, meus caros!
OSWALD
Não podia ter sido feita por outra pessoa, se não a
própria, meu futuro amor, Tarsila do Amaral. O melhor quadro já pintado! Um
presente para o futuro presente!
ANITA
Mas se estamos em 1922, Tarsila ainda nem pintou o
Abaporu, e nem se casou com você ainda, Oswald.
OSWALD
Eu faço predições! Predições românticas, porque
somos amantes, amadores, artistas!
TARSILA
Não podemos esquecer da linha do tempo cruzada dessa
história e de como esse monstro assustador ainda vive em nossos sótãos no dia
de hoje, ou embaixo do nosso travesseiro. O homem que comia gente não é uma
lenda, ou um mito! O homem que comia gente é real!
(ESCURIDÃO)
CENA
3
(UM QUARTO; TODOS DESAPARECEM; TARSILA CRIANÇA ESTÁ
COM TATA MIRIÃ)
TARSILA SENHORA
E não posso deixar de dar os créditos reais da
criatividade para as mulheres negras, trabalhadoras desse tempo, que tomavam
conta de mim quando criança. Sem elas, eu não teria enxergado a verdade sobre
aquele sistema. A história real é dessas mulheres que colocaram na minha cabeça
esse imaginário do terror. Porque o medo disso não precisava me afetar naquele
tempo. O homem que comia gente não gostava tanto do meu tipo de carne. Era na
pele escura que ele açoitava o dente. Elas contavam essa história com medo
real.
TATA MIRIÃ
No sótão dessa casa vive uma assombração que come
gente, que come as criancinhas não obedientes e indecentes e que não dormem na
hora corrente. É um homem sozinho e monstruoso, com as perna e os pé gigantesco
e desproporcional, primeiro faz você ficar com fome, rouba toda comida,
desmancha toda a plantação, mata as galinha. De dia ele volta pro sótão,
peladão e se sentindo o intelectual, esperando uma brecha no forro e uma
criança mal educada para fazer de comida. Tem uma cabecinha, mas tão pequenininha,
tão pequenininha, que ele precisa segurar pra não cair de tão leve. Mas seu
corpo é enorme, gigantesco, surreal! E fala, ô se fala! Grosseiro! Fala
baixarias! E quando ele já fez o inferno na sua vida ele vai e mata os seus
filhos, arranca a sua cabeça!
TARSILA CRIANÇA
Ai, eu tô com medo, Tata!
TATA MIRIÃ
Se você for uma menina obediente, não precisa ter
medo. Além do mais, Tarsila, por mais que você seja mulher e também seja um
alvo desse bicho-papão, você é uma menina branca. Você nasceu pra ser estrela
em Paris, monamour!
TARSILA CRIANÇA
E você também! E você vai ser uma estrela... hum...
nos Estados Unidos!
(TATA MIRIÃ RI)
TATA MIRIÃ
Sim... vou sim, meu amor... vou sim.
(ESCURIDÃO)
CENA
4
(TARSILA JOVEM VAI ATÉ UM FOCO)
TARSILA JOVEM
Eu quis fazer um quadro que assustasse o Oswald, que
fosse uma coisa mesmo fora do comum. O “Abaporu” era aquela figura monstruosa,
a cabecinha, o bracinho fino apoiado no cotovelo, aquelas pernas compridas,
enormes, e junto tinha um cacto que dava a impressão de um sol, como se fosse
também uma flor, e ao mesmo tempo um sol. Quando o Oswald viu o quadro, ficou
assustadíssimo e perguntou:
OSWALD
Mas o que é isso? Que coisa extraordinária! Eu
telefonei para o Raul Bopp no mesmo instante e disse: “Venha imediatamente aqui
pra você ver uma coisa!”
TARSILA
O Bopp também se assustou com o monstro do quadro,
lembra, Oswald? E o Oswald disse:
OSWALD
Isso é como se fosse um selvagem, uma coisa do mato!
E o Bopp foi da mesma opinião, concordou comigo.
TARSILA
Você é homem e branco, Oswald. Não precisa ter medo.
OSWALD
Eu sei, mas agora entendo o que você quer dizer.
TARSILA SENHORA
Aí eu quis dar um nome selvagem também ao quadro,
porque eu tinha um dicionário de Montoia, de um padre jesuíta, que dava tudo. O
nome da obra é de origem tupi-guarani que significa “homem que come gente”,
canibal ou antropófago, uma junção dos termos aba – homem – pora – gente – e ú
– comer. Eu gosto de inventar formas de coisas que eu nunca vi na vida, mas não
sabia por que que eu tinha feito o “Abaporu” daquela forma. Eu me perguntava:
Mas como é que eu fiz isto? Uma amiga me disse:
ANITA
Sempre que eu vejo “Abaporu”, eu me lembro de uns
pesadelos que eu tenho. Deve ser de outras vidas!
TARSILA JOVEM
Então liguei uma coisa a outra. O “Abaporu” era a memória
da Tata. (TARSILA CRIANÇA ABRAÇA TATA MIRIÃ) De quando éramos crianças na
fazenda. Naquele tempo tinha muita facilidade de empregadas, foi mais fácil pra
mim de um ponto de vista. As mulheres que trabalhavam para o papai na fazenda,
eram elas que tomavam conta de nós a maior parte do tempo. Depois do jantar
elas reuniam a criançada para contar histórias de assombração. Tata conseguiu
me mostrar o medo desse monstro que assola todos os tempos, que existe desde
sempre. Como era, Tata?
TATA MIRIÃ
“Daqui a pouco daquela abertura do forro vai cair um
braço, vai cair uma perna, vocês vão ver só! E eles primeiro vão me pegar e
vocês vão ficar sozinhos!”
TARSILA SENHORA
Mas a gente nem esperava. Abríamos a porta correndo
e nem queríamos saber de ver cair assombração nenhuma.
TARSILA CRIANÇA
É mentira! Para de nos assustar com essas histórias
de terror, Tata!
TATA MIRIÃ
Não é mentira não. Sorte a sua que você é
branquinha, Tarsila.
MENOTTI
(EXPLICATIVO) Esta obra foi responsável por dar
início à Fase Antropofágica de Tarsila.
MARIO
No quadro anterior ao “Abaporu”, “A Negra”, Tarsila mostrou
o que tinha descoberto, mostrou quem realmente precisava ser a protagonista.
Pode-se dizer que as duas obras são parentes, sob o ponto de vista estilístico
e também de sua história pessoal. Uma homenagem e lembrança de suas histórias
na fazenda.
TARSILA
De minhas histórias não. Histórias que me contaram,
histórias que eu ouvi...
TATA MIRIÃ
Muito que bom ter primeiro lembrado de mim antes do
monstro!
(TODOS RIEM)
TARSILA
Eu só enxerguei o monstro porque você me mostrou o
monstro.
ANITA
(COMO UMA CRÍTICA NUM MUSEU) “O tamanho monstruoso
do corpo da figura presente em Abaporu, bem além da realidade, em contraponto
com sua minúscula cabeça de alfinete, valoriza o trabalho braçal, em detrimento
do mental. Você está realmente de parabéns, Tarsila.”
TARSILA SENHORA
(TÍMIDA) Oras, obrigada...
MENOTTI
“É uma crítica política também! Vocês enxergam a
crítica política? Eu super exergo a crítica política.”
MARIO
Que se consolida com “Os Operários” logo em seguida.
TARSILA
Não existe arte apolítica. A arte é completamente
política! Só alguém que não sabe o que é arte e o que é política pode pensar o
contrário.
OSWALD
As cores empregadas na composição: céu azul, sol (ou
flor) amarelo e mata verde remetem às cores do país.
MENOTTI
“Tudo ali, sobe à tona como partículas do
inconsciente coletivo, tudo vira víscera do Brasil. A bandeira fora desfraldada
e vibrava a pleno vento!”
ANITA
Isso foi dito pelo crítico Roberto Pontual em “Entre
Dois Séculos / Arte Brasileira do Século XX”.
OSWALD
O Abaporu foi o que me inspirou a escrever o
Manifesto Antropofágico. Uma arte leva à outra, oras! Foi um movimento que
tinha como objetivo apreender a cultura européia, transformando em algo... um
tico brasileiro.
MENOTTI
Com uma pitada brasileira...
ANITA
Caipirinha...
MARIO
Paulista, carioca...
OSWALD
Sulista, nordestina...
TODOS
Coração
de Jesus
E
o que ficou mais famoso foi o Abaporu!
Coração
de Jesus
E
o que ficou mais famoso foi o Abaporu!
TODOS
Trata-se hoje da tela brasileira com maior valor no
mercado de arte nacional, e uma das mais importantes produzidas por um artista
brasileiro. Foi a pintura mais cara vendida no Brasil!
TATA MIRIÃ
Viva a cultura nacional! Viva Tarsila do Amaral!
TODOS
Viva!
TARSILA
Não. Tata, eu tive um privilégio de poder mostrar
essa cultura para o mundo. Mas essa cultura não é só minha. Essa cultura é sua,
é nossa, é de todos nós! “Sinto-me cada vez mais brasileira: quero ser a
pintora da minha terra. Como agradeço poder ter passado na fazenda minha
infância toda. As reminiscências desse tempo vão se tornando preciosas para
mim. Quero, na arte, ser a caipirinha da fazenda de São Bernardo em Capivari do
interior de São Paulo, brincando com bonecas de mato...” e orgulhosa das
pessoas e da história da minha terra. Por mais que ainda temos que lutar contra
esses homens “que comem gente” com dinheiro público, com dinheiro do povo, de
todas as formas que essa frase possa ser interpretada, o Abaporu do quadro é um
monstro mais bonito que eles. Pelo menos tem cor caipira!
TATA MIRIÃ
O tamanho da cabeça dele é parecido, bem
pequenininho. Cérebro de azeitona.
(TODOS RIEM)
MENINA
Mas... falando a verdade aqui, seja sincera. Você
realmente acredita que exista? Que esse monstro existe por aí?
TARSILA
Os operários estarão sempre em luta, minha querida,
não se preocupe! Tem gente lutando firme. E também os artistas que pintam os
monstros de forma colorida e à brasileira! É uma forma de fazer lume nas
trevas!
TODOS
O
Brasil samba que dá!
Bamboleio
que faz gingar
O
Brasil do meu amor
Terra
de Nosso Senhor
Brasil
Brasil
Pra
mim
Pra
mim
(ESCURIDÃO)
EPÍLOGO
(UM QUADRO MOSTRA O FUNDO IDÊNTICO AO QUADRO DO
ABAPORU, O CACTO, O SOL; TARSILA ENTRA NO QUADRO E SENTA-SE COMO O ABAPORU)
TARSILA
O que eu acho é que a inspiração para fazer essa
obra pode ser talvez um autorretrato também. Ela estava em frente a um espelho,
um espelho que distorcia um pouco o reflexo, que distorcia o tamanho das
imagens. E aí ela mesma nessa posição, sentada, com a mão na cabeça, o pé
descalço e, provavelmente... nua, pode ter se visto com essa forma peculiar.
Pode ser que ela estivesse falando do ser feminino, de ser torta, de ser
proporcional. (PAUSA) Na verdade, pouco importa. O que realmente importa é...
(OS OUTROS ARTISTAS TRANSFORMAM TARSILA NO CLÁSSICO
ABAPORU, QUE SE MOVIMENTA LENTAMENTE NUM QUADRO VIVO)
TODOS
O que você vê?
(ESCURIDÃO)
FIM
Desenho de Dani Purper |