O INÍCIO (CURTA-METRAGEM)

IMAGENS REAIS DE METEOROS/REPORTAGENS SOBRE O ESPAÇO/UM NARIZ ESCORRENDO/MÃOS SE APERTANDO/MÃOS TROCANDO DINHEIRO/UM ESPIRRO/UMA CRIANÇA COM O DEDO NA BOCA/UMA BOSTA DE CACHORRO/POEIRA/UM CABELO NUM COPO DE LEITE/UM BEIJO DE LÍNGUA/UMA REPORTAGEM SOBRE PLANTAÇÕES E FERTILIZANTES/UMA REPORTAGEM SOBRE MOLÉCULAS/UMA REPORTAGEM SOBRE MATADOUROS DE BOIS/A CRIANÇA PÕE ALGUM BRINQUEDO NA BOCA/UM CACHORRO CAGANDO/SIRINGAS NUM LIXO HOSPITALAR/UMA PESSOA CONVULCIONANDO/IMAGENS REAIS DE ALGUMA INFECÇÃO EM MASSA

O INÍCIO

I - EXTERNA/DIA/SAÍDA DE UM AEROPORTO
UM AVIÃO POUSA/ UM JOVEM FUMA UM CIGARRO NA GRADE AO LADO/LOGO UMA MENINA SAI DO AERPORTO
DOUGLAS
Finalmente!

BIA
Hi, Doug! It’s nice to see you. How are you doing? Now, I’m able to speak another language.

DOUGLAS
Fresca.

BIA
Me deve uma noite de caipirinhas.

ELES SE ABRAÇAM.

DOUGLAS
E a tartaruga? Essa já fugiu, aposto.

BIA
(ri) Besta. A Tereza ficou com o Adam, tadinha.

DOUGLAS
Adam. Sei.

BIA
E você? Como tem passado, Douglas Roberto?

DOUGLAS
Normal. A vovó voltou pra Porto Alegre. Tô sozinho. E por lá? Nada mesmo? Nem teste, nem nada?

BIA
Tudo no seu tempo. Achei que precisava voltar um pouco.

DOUGLAS
Hum. Bacana ter você de volta.

BIA
É.



II - EXTERNA/DIA/CARRO

ELES VIAJAM EM SILÊNCIO/BIA VISIVELMENTE ABATIDA/DOUGLAS LIGA O RÁDIO/SÓ ENCONTRA SERTANEJO/LOGO DESISTE E DESLIGA/BIA NÃO PENSA EM NADA/OS DOIS VIAJAM POR MAIS UM TEMPO EM SILÊNCIO/BIA ESPIRRA

DOUGLAS
Saúde.


III - EXTERNA/DIA/FRENTE DA CASA DE DOUGLAS
O CARRO ESTACIONA/DOUGLAS DESCE PRIMEIRO E RETIRA AS MALAS DO CARRO/ELE ENTRA ENQUANTO BIA CONTINUA SENTADA QUIETA

DOUGLAS
Você não vem?

BIA
Tô indo.

BIA DESCE DO CARRO E ENTRA


IV - INTERNA/DIA/CASA DE DOUGLAS

DOUGLAS DEIXA A CHAVE DO CARRO EM CIMA DA MESA

DOUGLAS
Sua cama tá do jeito que você deixou.

BIA
Hum.

DOUGLAS
Uns amigos vêm aqui em casa hoje. Vou te apresentar a Soraia, ela foi na casa da mãe dela hoje.

BIA
Soraia.

DOUGLAS
Você vai gostar dela.

BIA
Eu sei.

DOUGLAS
Vou fazer alguma coisa pra comer.

DOUGLAS VAI ATÉ A COZINHA

DOUGLAS
Fique a vontade, Bia. Tá estranhando?

BIA
OFF – Tô bem.

DOUGLAS
Eu queria pedir só pra você não sumir, ok? Eu sei dos seus lances e tudo, mas queria pedir pra você não sumir, tá bom? Eu fico nos nervos quando isso acontecia.

SILÊNCIO

DOUGLAS
Você não tá comendo nada de carne mesmo?

SILÊNCIO

DOUGLAS
Bia?! Pode pôr peito de peru?

DOUGLAS VAI ATÉ A SALA E VÊ QUE A CHAVE DO CARRO NÃO ESTÁ NA MESINHA/VAI ATÉ A JANELA E VÊ O CARRO SAINDO RÁPIDO

DOUGLAS
Filha de uma puta.


EXTERNA/DIA/CARRO

BIA SE DEMONSTRA ABATIDA/ELA DIRIGE FOCADA/ELA LIGA O RÁDIO/OUVE-SE UMA REPORTAGEM

REPÓRTER 1
Foi por volta das sete da noite, horário de Brasília, que a família de fazendeiros ouviu o barulho. Eles relataram que um clarão invadiu a sala onde todos estavam e logo depois um estrondo que arrebentou todas as janelas da casa. O dono da fazenda, senhor Eugênio Prata e sua esposa confirmaram nesta manhã a morte de todos os gados e frangos de uma mini granja. Ainda não se sabe a causa da morte dos animais. Os especialistas sugerem envenenamento em massa...

BIA MUDA DE ESTAÇÃO/ALGUMAS MÚSICAS/E OUTRA NOTÍCIA

REPÓRTER 2
O novo filme do Homem-Aranha estreia nessa sexta-feira...

MUDA DE NOVO

REPÓRTER 3
Eu não acredito que o H1N1 ainda seja um problema para a população.

REPÓRTER 4
Na verdade, ainda temos que tomar as causas preventivas...

BIA MUDA A ESTAÇÃO E DEIXA EM UMA MÚSICA CALMA/ALGUNS SEGUNDOS, ELA APENAS DIRIGE/DE REPENTE, UM INSETO ATINGE O PARABRISA/BIA OBSERVA OS RESTOS ESMAGADOS NO VIDRO.


V - EXTERNA/DIA/UMA ÁRVORE NUM CAMPO

BIA ESTACIONA O CARRO/ELA RESPIRA E OBSERVA O AR/ELA INICIA UMA DANÇA – DE INÍCIO UM TANTO TOSCA/LOGO A DANÇA FICA SÉRIA E BIA RODOPIA CANSADA E AO MESMO TEMPO ALIVIADA/SEU NARIZ COMEÇA A SANGRAR – ELA NÃO PERCEBE/A DANÇA VAI TOMANDO UM AR COMPULSIVO E ESTRANHO/ELA RODA/POR FIM, BIA VÔMITA UM POUCO DE SANGUE/ELA SE LIMPA CALMAMENTE E AVISTA UMA VACA AO LONGE/ELA CAMINHA ATÉ A VACA A OBSERVANDO COM CURIOSIDADE/ELA CHEIRA A VACA.
UMA MOTO PÁRA AO LADO DO CARRO/DOUGLAS DESCE E VÊ A POÇA DE SANGUE/SORAIA FICA PARADA AO LADO DA MOTO SEGURANDO OS CAPACETES/DOUGLAS CAMINHA ATÉ ONDE BIA ESTÁ DEITADA, PRÓXIMO DA VACA.

DOUGLAS
Bia...

BIA
Já tô indo, Douglas.

DOUGLAS
O que é aquele sangue?

BIA
É da vaca. Não se preocupe.

DOUGLAS PERCEBE QUE A BOCA DE BIA ESTÁ CHEIA DE SANGUE.

DOUGLAS
Você mordeu a vaca, Bia?

BIA
Eu queria saber o gosto.

SILÊNCIO.

DOUGLAS
Vamos embora.

ELE A PEGA PELO OMBRO E A LEVA ATÉ O CARRO.


VI - INTERNA/NOITE/CASA DE DOUGLAS

BIA ESTÁ NO SOFÁ ASSISTINDO UM DOCUMENTÁRIO SOBRE A EVOLUÇÃO HUMANA/SORAIA ESTÁ LAVANDO LOUÇA NA COZINHA/DOUGLAS PASSA PELA IRMÃ E AFANA SUA CABEÇA – DEPOIS VAI ATÉ A COZINHA E CONVERSA BAIXO.

SORAIA
Ela não gostou de mim.

DOUGLAS
Gostou sim. Ela tá com uns problemas. Não deu certo os planos em Nova York e aí ela tem pirado um pouco. Tenha paciência, tá?

SORAIA
Ela mordeu mesmo aquela vaca?

DOUGLAS
Ela tem uns negócios. Ela é bailarina e curte uns lances meio malucos. Nem eu entendo muito.

SORAIA
Tá louco. Bailarina...

DOUGLAS
Ela faz uns negócios com arte e tal. Lá em Nova York ela trabalhava na rua. Às vezes pelada até. Foi presa uma vez. Eu te disse, não disse?

SORAIA
Disse.

DOUGLAS
Ela faz umas paradas e fala que é arte e tal.

SORAIA
Sei. Ai, Douglas, eu sei que ela é sua irmã...

DOUGLAS
Sô, por favor...

SORAIA
Ai, meu, eu tô morando aqui também, pô. E depois? Vai ser o que?

DOUGLAS
Ela é minha irmã. Eu tenho que cuidar dela.

SORAIA
Meu, ela bebeu o sangue daquela vaca. Você tinha que procurar um médico, sei lá.

DOUGLAS
Ela não ia querer.

SORAIA
E se ela decide fazer uma performance no meio da noite e me morder também?

DOUGLAS
Ai, cala a boca, Soraia. Pelo amor de deus.

BIA ENTRA NA COZINHA

BIA
Eu não vou te morder. Eu não mordo meninas grávidas.

BIA SAI/DOUGLAS E SORAIA PERMANECEM EM SILÊNCIO

SORAIA
Eu não tô grávida.



VII - INTERNA/MADRUGADA/COZINHA

BIA ACORDA QUASE SONÂMBULA/ENTRA NA COZINHA E PÁRA DE FRENTE PARA A GELADEIRA/ELA FICA POR ALGUNS LONGOS SEGUNDOS APENAS PARADA/DEPOIS ABRE O REFRIGERADOR E RETIRA UM PEDAÇO DE CARNE DE UM SACO PLÁSTICO/ELA SENTA E PICA A CARNE COM UMA FACA/ELA VAI ATÉ A GELADEIRA NOVAMENTE E TIRA UMA LATA DE COCA COLA/ELA SENTA E COME A CARNE CRUA COM COCA COLA.



VIII - INTERNA/NOITE/QUARTO DE DOUGLAS

DOUGLAS E SORAIA ESTÃO DORMINDO/UM RELÓGIO MOSTRA DUAS E MEIA/OUVE-SE BARULHOS BAIXOS/DE REPENTE UM GRITO SEGUIDO DE UM ESTRONDO/DOUGLAS LEVANTA ASSUSTADO

SORAIA
O que foi isso, Dô?

DOUGLAS
A Bia!

OS DOIS SEGUEM PELO CORREDOR ATÉ A COZINHA/A ENCONTRAM ASSUSTADORAMENTE CONTORCIDA NO CHÃO

SORAIA
Ai, meu deus!

DOUGLAS
Bia! Pelo amor de deus!

BIA
Eu vou morrer, Dô. Todo mundo vai morrer.

DOUGLAS
Calma. Não fale isso. (PARA SORAIA) Pegue o secador de cabelo pra mim.

SORAIA
Pra quê?

DOUGLAS
Pegue logo.


IX - INTERNA/MADRUGADA/QUARTO DE BIA

DOUGLAS ESTÁ ESQUENTANDO O CORPO DE BIA COM UM SECADOR/ELA ESTÁ UM POUCO MELHOR E MAIS CONSCIENTE/SORAIA ESTÁ ENCOSTADA NA PORTA

DOUGLAS
Ela costumava ficar fria quando a gente era criança.

BIA
Eu tive meningite.

DOUGLAS
É.

SILÊNCIO

DOUGLAS
Ela pegou um vírus que ninguém conhecia.

BIA
É. Um vírus. Ficou instalado aqui. (MOSTRA A NUCA)

DOUGLAS
Além da meningite. A meningite foi o de menos. Foi uma loucura. Teve umas reações no corpo que nenhum médico sabia dizer o que era.

BIA
Meu coração parou quatro vezes. E eu continuava de olho aberto, não é, Dô?

DOUGLAS
Puta susto. Sem batimento e olhando pra gente. Olhando mesmo. Olhava no olho da gente. Por uns cinco minutos, sem falar, mas viva de coração parado. Aí o coração voltava. Quatro vezes aconteceu. Saiu numa revista e tudo. De médicos.

SORAIA
Nossa. Você nunca me falou dessa parte. (PARA BIA) Quanto anos você tinha?

DOUGLAS
Oito. E eu doze.
BIA
Eu tenho sangue dentro de mim que não é meu.

DOUGLAS
Meses de transfusão.

SORAIA
Deve ter sido foda.

BIA
Eu não lembro de nada.

DOUGLAS
Eu lembro.

SILÊNCIO

DOUGLAS
Depois disso que... daí ela sempre teve alguns ataques...

SILÊNCIO

BIA
A dança me ajudou bastante.

SORAIA
É.

SILÊNCIO

DOUGLAS
Como você estava sobrevivendo sem mim lá em Nova York, menina?

BIA
O Adam é enfermeiro. Ele me ajudou em muitas coisas, além de cuidar da Tereza...

DOUGLAS
Amolece o ombro! Tá tencionando de novo.

BIA
Aí ele começou a dizer umas coisas muito loucas, Dô. Ele era doidão. Você ia gostar dele.

DOUGLAS
Era, é?

BIA
E ainda mais que o inglês, o jeito que se fala, pra gente que fala português, soa-se um tanto romântico e tal.

DOUGLAS
Como?

BIA
Não romântico de amor. Romântico de pomposo, you know? E aí, meu, ele era louco.

DOUGLAS
Por que, louco?

BIA
Ele me contou que quando era criança ele tinha certeza que um inseto entrou dentro do braço dele. E que o inseto tá lá até hoje. Vivo.

DOUGLAS
(ri) Que viagem!

BIA
Ué, mas pode ser, não pode? Aquele vírus nada mais é que um serzinho que entrou dentro de mim, não foi? Ele me contou que em uma noite eu morri nove vezes, Dô. You died, girl! You died! You were not supposed to be staring at me”. Mas ele era malucão. Aí ele começou a dizer que a gente não é bosta nenhuma, sabe? Ele via as coisas que eu fazia, os meus espetáculos, as minhas encenações, e ele entrava mais em choque. Ele entendia o que eu dizia, e o que eu dizia o confundia mais do que me confundia. Entendeu?  Ele começou a me colocar mais pra baixo porque ele tava ficando pior que eu, e por culpa minha. Entrou numa paranoia que nem dá pra explicar. Eu tava deixando ele louco. Ele chegou a ter certeza de que tinha nascido em outro planeta, e de que tá cheio de coisa que a gente não enxerga que anda bem grudadinho com a gente, de milhões de coisas e ideias que a gente nem imagina, e um monte de coisa mais. E aí eu já sou louca, né? Juntou com a loucura dele, aí ficamos dois doidos olhando pra poeira da estante e imaginando todo uma sociedade, todo uma civilização dentro daquele grão de nada. Que é o que somos.

CURTO SILÊNCIO

DOUGLAS
Já tá quente?

BIA
Quase. E aí ele dizia que estamos expostos pra qualquer tipo de evento ou acontecimento ou situação. Entende? Que não existe limite de fatos considerados não naturais! Entende, Soraia? Entende?

SORAIA
Sim, sim.

BIA
Então, eu concluí – sozinha! – que qualquer coisa, qualquer tipo de acontecimento que possamos imaginar, qualquer coisa mesmo, é possível de chegar um dia acontecer. Alguém voar, alguém conversar pelo pensamento com outra, a existência de um deus, ou a não existência de nada, alienígenas, fantasmas, demônios, super-heróis, vírus mutantes, viagem no tempo e etc e tal. É uma loucura. Você ia adorar o Adam, Dô.

DOUGLAS
Ele parece ser legal, Bia.

BIA
E aí...

SORAIA
Eu vou dormir, gente. Tô quebradaça. Amanhã tenho que acordar cedo.

DOUGLAS
Tá bom.

SORAIA
Beijo, pessoal.

SORAIA SAI/SILÊNCIO

BIA
Perdão. Eu tô ficando cada vez mais louca mesmo.

DOUGLAS
Não tá, não.

BIA
Tô sim. Eu sei que tô.

SILÊNCIO

BIA
E se eu já nasci com um destino programado, Dô?

DOUGLAS
Então, mas e as escolhas no meio desse caminho? Lembra?

BIA
Eu sei. (PAUSA) E se essas escolhas eram pra ser escolhidas do jeito certinho que eu escolhi? Nos lugares certinhos que eu passei. E se aquele vírus que eu peguei não foi um acaso, Dô? Eu tenho pensado numa coisa muito idiota.

DOUGLAS
O que?

BIA
É muito idiota.

DOUGLAS
Fale.

BIA
E se eu estivesse sendo preparada para algo um pouco maior?

DOUGLAS
Como assim?

BIA
Um acontecimento. De mudar o ruma da nossa existência. Eu acho que eu fui escolhida para iniciar uma nova fase, Dô. Uma nova espécie.

SILÊNCIO/A REALIDADE VOLTA PARA O CLIMA/DOUGLAS NÃO ACOMPANHOU O RACIOCÍNIO COM SERIEDADE/ELE ESTÁ PREOCUPADO

DOUGLAS
Uau.

BIA
É sério.

DOUGLAS
Bia, eu sei que as coisas são difíceis de entender. Eu não duvido das suas coisas, das suas pirações. Mas me passa uma impressão que você esteja fazendo algumas coisas de graça, sabe? A sua apresentação pra Soraia podia ter sido menos dramática, não podia? Você tava falando com aquele tom enquanto ela estava aqui, e a hora que ela saiu pareceu que tinha acabado o espetáculo e finalmente podíamos conversar sério. Percebe isso? Parece que você quer provar alguma coisa, entende, Bia?

SORAIA
Você não entende minhas pirações.

DOUGLAS
Porra, você mordeu uma vaca, meu! Isso é meio insano.

SILÊNCIO

DOUGLAS
Eu não tenho mais o que dizer. Não quero te desencorajar. Mas não posso participar disso, Bia. Eu tenho minha vida também aqui. A Soraia tem um pouco de medo de você.

BIA
Você não entendeu...

DOUGLAS
Bia, eu amo você. Você sabe, né?

BIA
Sei.

DOUGLAS
Às vezes a gente tem que manter algumas loucuras só pra gente. Deixar lá dentro da cabeça. Puxa, se eu falasse das minhas pirações, elas não soariam mais normais que as suas. Acho que dentro da cabeça a gente controla melhor. Tá quente, já?

BIA
Tô.

DOUGLAS
Eu vou dormir, então. Boa noite.

BIA
Boa noite.

DOUGLAS
Fique de boa, tá.

BIA
Tá.

ELE A BEIJA NA TESTA E SAI/BIA FICA PENSATIVA/ALGO INCOMODA EM SEUS DENTES E ELA APALPA SEUS CANINOS E COÇA A GENGIVA IRRITADA



X - EXTERNA/DIA/SONHO DE BIA/CAMPO COM UMA ÁRVORE

BIA ESTÁ DANÇANDO PRÓXIMO UMA VACA/UM CACHORRO CAGA ALI PERTO/VÊ SE CENAS DE MATADOUROS/BIA LAMBE OS LÁBIOS/ELA CONTINUA DANÇANDO DESESPERADAMENTE/ ADAM APARECE ENSANGUENTADO

BIA ACORDA EM SUA CAMA/ELA VAI SE ACALMANDO AOS POUCOS


XI – INTERNA/MADRUGADA/QUARTOS

BIA FICA PENSATIVA/ELA SENTA NA CAMA E SE ESPREGUIÇA/ELA COÇA A BOCA/ELA COÇA A CABEÇA TODA/A NUCA COMEÇA A INCOMODAR/UM CACHORRO ENTRA EM SEU QUARTO/OUVE-SE UM ROSNADO




XII - INTERNA/DIA/BANHEIRO

SORAIA ENTRA NO BANHEIRO PRA ESCOVAR OS DENTES/ELA SENTE ALGO DE LEVE NA BARRIGA/SENTE UM LEVE ENJÔO E RI SEM GRAÇA DA COINSCIDÊNCIA/PERCEBE UM BURACO EM SEU PESCOÇO


XIII - INTERNA/DIA/COZINHA

DOUGLAS ESTÁ PREPARANDO O CAFÉ/BIA ENTRA NA COZINHA/ELA SENTA EM SILÊNCIO

DOUGLAS          
Bia, por que você não disse que o Adam estava desaparecido?

LONGO SILÊNCIO/BIA COME SEM SE IMPORTAR

DOUGLAS
Bia, eu te fiz uma pergunta. Ligaram hoje. Querem falar com você.

BIA
Coitada da Tereza.

SILÊNCIO


XIV - INTERNA/DIA/CORREDOR

DOUGLAS ESTÁ ARRUMANDO ALGUMAS COISAS E ANDA DE UM QUARTO PARA OUTRO

DOUGLAS
Sô, você viu a chave do carro? Eu tinha certeza que tinha deixado na cabeceira.

SILÊNCIO

DOUGLAS
Sô, onde você tá?

ELE PASSA PELO BANHEIRO E OUVE A ÁGUA DA TORNEIRA

DOUGLAS
Soraia, tá tudo bem? Sô? Sô, abra a porta!

ELE SE DESESPERA

DOUGLAS
Abra a porra da porta, Soraia!

ELA ABRE/SORAIA ESTÁ TERRIVELMENTE PÁLIDA E COM OS OLHOS FUNDOS E VERMELHOS

SORAIA
Acho que não tô bem, Dô.

DOUGLAS
Meu deus do céu. O que é isso?

SORAIA
Acho que eu tô grávida.

ELA CAI NO CHÃO/ELE A SEGURA

DOUGLAS
Soraia! Pelo amor deu deus! Bia! Bia!

ELE SAI DO BANHEIRO, VAI ATÉ UMA JANELA E VÊ BIA SAINDO COM O CARRO

DOUGLAS
Caralho! Bia! Caralho!

ELE VOLTA PARA O BANHEIRO E SORAIA ESTÁ MORTA COM OS OLHOS ABERTOS

DOUGLAS
Ai, meu deus do céu!



XV - EXTERNA/DIA/CARRO

BIA ESTÁ CHORANDO/SEU NARIZ SANGRA/OUVE-SE O BATIDO DE SEU CORAÇÃO/ELA ESTÁ DESESPERADA E COÇA A GENGIVA/O CORAÇÃO VAI PERDENDO FORÇA/DE REPENTE O BATIDO PÁRA/ELA FREIA O CARRO E FICA IMÓVEL/SEUS OLHOS OBSERVAM AS COISAS AO REDOR/POR LONGOS SEGUNDOS ELA APENAS OBSERVA/DE LONGE VEMOS O CARRO PARADO/OUVE-SE UM GRITO HORRÍVEL


XVI - INTERNA/DIA/BANHEIRO

DOUGLAS ESTÁ SENTADO COM SORAIA EMS SEUS BRAÇOS/ELE CHORA/ELE VÊ O BURACO NO PESCOÇO


XVII - EXTERNA/DIA/RUA

BIA ESTÁ CAMINHANDO APALPANDO O PEITO, TENTANDO SENTIR SEU CORAÇÃO/ELA TENTA SENTIR O PULSO/UM MENINO PASSA DO SEU LADO COM UM CARRINHO AMARRADO EM UMA CORDINHA/O MENINO LIMPA O NARIZ/ELE SE AFASTA E ELA VIRA PARA OBSERVÁ-LO/ELA COÇA A GENGIVA NOVAMENTE/DECIDE IR POR ONDE FOI O MENINO


XVIII - INTERNA/DIA/CASA DE DOUGLAS

DOUGLAS SEGURA UM CAPACETE E ANDA APRESSADO/ELE SE ARRUMA PARA SAIR/O TELEFONE TOCA

DOUGLAS
Alô? É... ela não pode falar agora. Sobre o que seria? Exame? Exame de quê? Gravidez.

ELE DESLIGA/SORAIA ESTÁ ATRÁS DELE EM PÉ NO BATENTE DA PORTA/ELE SE VIRA

DOUGLAS
Soraia! Puta que o pariu! Você tá bem?

SORAIA ABRE OS OLHOS/ELA VOMITA SANGUE




XIX - EXTERNA/DIA/UM PARQUINHO

BIA SE APROXIMA DO MENINO/ELE AGORA BRINCA NA TERRA COM O CARRINHO

BIA
Oi.

MENINO
Eu não posso falar com estranhos.



XX - INTERNA/DIA/CASA DE DOUGLAS

SORAIA SE CONTORCE E GRITA NO CHÃO/OUVE-SE O BATIDO DO SEU CORAÇÃO/DOUGLAS, DESESPERADO TENTA SEGURÁ-LA

DOUGLAS
Calma! Eu tô aqui, Sô! Eu tô aqui!

AOUS POUCOS ELA VAI SE ACALMANDO E O CORAÇÃO VAI DESACELERANDO

DOUGLAS
Eu tô aqui.

O CORAÇÃO PÁRA/DOUGLAS A SEGURA COMO SE A FIZESSE DORMIR

DOUGLAS
Shiii. Vai ficar tudo bem.

POR UM TEMPO, SORAIA PERMANECE IMÓVEL COM OS OLHOS ABERTOS/DE REPENTE, ELA FIXA OS OLHOS EM DOUGLAS E PULA SOBRE ELE/ELA O MORDE NO PESCOÇO



XXI - EXTERNA/DIA/RUA

BIA APARECE CAMINHANDO PUXANDO O CARRINHO PELA CORDINHA E COM A BOCA ENSANGUENTADA




CRÉDITOS FINAIS

Direção
Elenco
Produção


XXII - CENA PÓS CRÉDITOS/INTERNA/NOITE/CASA DO MENINO

O MENINO ABRE A PORTA/ELE ESTÁ PÁLIDO E COM OS OLHOS VERMELHOS

MÃE
Filho! Eu estava tão preocupada.




FIM

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