LOUCO É A MÃE (2010)

LOUCO É A MÃE (2010)

Personagens:
Silnete
Marco
Laura

(toca a campanhia)

SILNETE
Oi. É aqui que estão precisando de empregada?

LAURA
Como soube?

SILNETE
Vi no jornal.

LAURA
No jornal. Sei. Você lê?

SILNETE
Não. Mas minha vizinha lê, ela quem viu.

LAURA
Não lê. Entendo. Quantos anos têm?

SILNETE
Vinte e sete.

LAURA
Terminou os estudos?

SILNETE
Não, infelizmente tive que começar a trabalhar cedo.

LAURA
O que sabe fazer então?

SILNETE
O comum. Arrumar a casa, cuidar de criança, essas coisas.

LAURA
Mas não lê.

SILNETE
Não, infelizmente não. Gostaria de aprender.
LAURA
Não sou professora, desculpe. E você é uma pessoa calma? Tem casos na família de loucura, deficiência mental, algo do tipo.

SILNETE
Não. Na verdade, não sei. Vim pra São Paulo muito pequena, não conheço muito minha família. Mas eu acho que tive um primo que tinha uma certa deficiência.

LAURA
Que tipo? Alguma coisa ligada à distúrbios psicológicos.

SILNETE
Não sei o que é isso. Mas pela sua cara, acho que não. Ele ficava batendo palma e rindo de tudo.

LAURA
Entendo. Sempre?

SILNETE
Sempre o que?

LAURA
Sempre batendo palma e rindo?

SILNETE
Não via ele toda hora, mas do que eu lembro, era ele batendo palma e rindo.

LAURA
Entendo. E você?

SILNETE
Não, eu não. Eu quase nem rio.

LAURA
E por que não? Tem algum distúrbio ou depressão?

SILNETE
Não, não. Eu sou normal.

LAURA
É o que você acha. Ninguém é normal por inteiro. Ainda que o normal é relativo. O que pra você é normal, pra mim pode ser completamente anormal. Você acha que tem algo que deveria me contar que eu veria como uma coisa estranha?

SILNETE
Não. Acho que não. Às vezes...

LAURA
Às vezes o que? Às vezes o que? Você lava as mãos duas vezes, fala duas vezes a mesma coisa? Tranca a porta duas vezes? Olha, entenda, eu estou fazendo essas perguntas porque eu não quero transtornos e manias aqui dentro de casa. Meus filhos são muito influenciáveis e...

SILNETE
Não se preocupe. Não faço nada disso.

LAURA
Então, às vezes o que?

SILNETE
Às vezes eu tenho soluços.

LAURA
Soluços? Só soluços? É contagioso?

SILNETE
Não, mas daí é só eu tomar um susto ou beber água de cabeça pra baixo que tudo volta ao normal.

LAURA
Ao normal por completo?

SILNETE
Sim.

LAURA
Eu gosto disso. Coisas normais (pensa). Bom... Sim. É aqui mesmo o anúncio do jornal.

SILNETE
Ah, que bom!

LAURA
Você quer se candidatar?

SILNETE
Sim, eu gostaria. Gostaria muito.

LAURA
Entendo. Por que?

SILNETE
Por que o que?

LAURA
Por que gostaria muito? Está desesperada?

SILNETE
É que... sabe, eu estou precisando muito desse trabalho.

LAURA
Ah, tá precisando? Por que?

SILNETE
Eu tenho quatro filhos pequenos pra criar, minha mãe tá velhinha e sou eu quem cuido da casa. Eu tava vivendo catando latinha na rua pra conseguir comprar leite para eles. Então...

LAURA
Entendo. Difícil.

SILNETE
Eu preciso muito desse emprego, sabe.

LAURA
Aham. Você trouxe currículo e foto de rosto e de corpo?

SILNETE
Eu... não.

LAURA
Tem experiência, formação? Indicação?

SILNETE
Não. Mas eu já trabalhei como doméstica antes.

LAURA
Isso se chama experiência, concorda?

SILNETE
Claro, eu quis dizer... não que eu seja a mais experiente, mas...

LAURA
Entendo. Você não se acha a melhor. Você deve se achar melhor que as concorrentes, sabia? Mesmo que você tenha certeza que as outras são mais competentes, você deve fingir. Interpretar. É assim que se consegue um emprego. Se não, vai ficar trabalhando de faxineira pro resto da vida.

SILNETE
Eu fui criada em uma família humilde. Não sou ótima em nada que faço. Tem sempre alguém melhor.

LAURA
Entendo. Você tem problemas ou distúrbios de personalidade? Distúrbios de inferioridade?

SILNETE
Não. Eu não tenho nenhum problema. Tirando o caso de eu estar desempregada e pobre.

LAURA
(ri) Ah, querida, isso não é problema. Dinheiro não traz felicidade.

SILNETE
Mas ajuda um pouco. Na beleza, inclusive.

LAURA
(silêncio) Como disse que se chama mesmo?

SILNETE
Eu não disse. É Silnete.

LAURA
(segura o riso forçadamente) E no nome também. Meus filhos terão dificuldades em pronunciar isso, está ciente disso, certo?

SILNETE
Pode me chamar de Sil.

LAURA
Prefiro Nete, pode ser? Soa mais novela.

SILNETE
Do jeito que achar melhor.

LAURA
Certo. Não significa que você é a escolhida, ok? É só se acaso isso acontecer. Caso julguemos corretamente.

SILNETE
Entendo.

LAURA
(silêncio)

SILNETE
Bom, então...?

LAURA
(enlouquecida, com os olhos esbugalhados) Puta! Biscate! Vadia! Chupa meu cú! (realmente biruta, no estilo clássico de loucura, com dedo no lábio e tudo o mais)

SILNETE
O que é isso? Me desculpe, eu não...

LAURA
Cale essa boca, sua vaca! Maluca! Prostituta filha de uma égua!

SILNETE
Minha senhora, eu não entendo...

LAURA
Minha senhora é a puta que o pariu! Qual é? Se quiser arranjar briga, é isso que encontra aqui. Dê meia volta e saia desta porra desta casa!

SILNETE
Eu não tô entendendo. Estávamos falando da vaga pra doméstica.

LAURA
Vaga pra doméstica o caralho! Vaza, ralé! Tira essa bunda gorda de dentro da minha casa.

MARCO
(entra) O que foi, querida? Esqueceu do remédio de novo?

LAURA
Vai tomar no cú, Marco! No meio do seu arrombado...!

MARCO
Calma, querida! Cadê seu remédio?

LAURA
Enfiei no cú da sua mãe! Por que não procura lá? Por que não procura lá?

MARCO
Você escondeu ele de novo?

LAURA
Escondi a porra do remédio porque eu não quero tomar a porra do remédio dessa porra de médico filho da puta e corno que acha que eu sou louca! Louca é a mãe dele! A mãe dele!

MARCO
Mas olha pra você. O que acha que está parecendo gritando desse jeito? E quem é essa?

LAURA
Uma vagabunda, com certeza! Mal sabe ler! E tem soluços! Ah! E eu que sou a louca!

SILNETE
Olha, minha senhora, eu não sei o que eu fiz pra...

LAURA
Vagabunda! E burra!

MARCO
Querida! (se dirige à Silnete) Me desculpe, moça. Minha esposa sofre de um distúrbio raro, que...

LAURA
A sua mãe sofre um distúrbio raro, tá bom! A sua mãe! Eu não sou louca, tá! Tudo isso é de propósito, ok? Eu não sou louca.

MARCO
É sim, querida. E você nem vai lembrar disso tudo.

SILNETE
Então... isso é um distúrbio?

MARCO
Sim, cada vez que ela toma o remédio, muda de personalidade, de manias, até de nome já aconteceu. De vez em quando aparece alguma personalidade violenta, mal educada. Mas na maioria das vezes ela vive bem.

LAURA
Louco! Até parece! Que coisa absurda! Não acredite nele, Elizabeth.

MARCO
E quem é você mesmo?

SILNETE
Eu vim pra vaga de doméstica.

LAURA
Não! Está despedida! Fora, puta! Fora da minha casa!

MARCO
Sabe cuidar de crianças?

SILNETE
Sim. Eu tenho quatro filhos pequenos.

MARCO
Legal. (acha o remédio) Ah, achei. Tome querida. Abra a boca. (ela resiste) Abra. Abra. Querida, olhe pra mim. Laura. Por favor. (ela obedece)

LAURA
(pausa; ela faz uma cara normal novamente, mas logo volta à loucura) Tá vendo, seu burro? Essa porra desse remédio não funciona! Esse caralho de médico acha que sabe tudo, mas ele não sabe porcaria nenhuma. E você, muito viadão - pensa que eu não percebo a graça que faz pra cima dele? – nem pra defender a porra da sua esposa!

MARCO
(para Silnete) O remédio já faz o efeito, não se preocupe.

LAURA
E você, muito viadão - pensa que eu não percebo a graça que faz pra cima dele? – nem pra defender a porra da sua esposa! E pare de falar dessa bosta de remédio! Essa bosta de remédio! Bosta de remédio! De remédio.

MARCO
Ixi, começou o repeteco.

SILNETE
Repeteco? Como é isso?

MARCO
Tudo o que ela fala, ou quase tudo tem de ser repetida duas ou três vezes dependendo da pessoa que ela incorpora, entende?

LAURA
Não fale de mim pelas costas, traidor!

MARCO
Querida, sente-se. Acalme-se um minuto.

LAURA
Não fale de mim pelas costas, traidor!

SILNETE
(gargalha) Que coisa engraçada! (fica séria) Me desculpe, eu não tive a intenção de...

MARCO
Não se preocupe, às vezes eu rio também.

LAURA
Rindo de mim, vadiazinha do Egito?

SILNETE
Não, eu...

LAURA
Rindo de mim, vadiazinha do Egito?

SILNETE
Não, senhora.

LAURA
Senhora o caralho! Senhora o caralho! Me chame de Laurinha. É como gosto de ser chamada.

SILNETE
Dona Laurinha, nós falávamos do emprego. Da vaga de doméstica.

LAURA
Me chame de Laurinha. É como gosto de ser chamada.

SILNETE
Sim, foi o que eu disse.

MARCO
É... Elizabeth?

SILNETE
Silnete, senhor.

MARCO
Silnete. Não precisa me chamar de senhor, tá bom?

LAURA
Ah, seu safado! Dando em cima da empregada que nem é empregada ainda?

MARCO
Ora, Laura, faça me o favor.

LAURA
Diga que só tem olhos pra mim.

MARCO
Laura...

LAURA
Ah, seu safado! Dando em cima da empregada que nem é empregada ainda? Diga que só tem olhos pra mim.

MARCO
(suspira) Eu só tenho olhos pra você.

LAURA
(pula de alegria e agarra o marido olhando para Silnete como uma criança) É meu, tá. Só meu.

SILNETE
Dona Laurinha, eu nunca...

LAURA
É meu, tá. Só meu.

SILNETE
Sim. É todo seu.

LAURA
Agora, fim da entrevista. Pode sair, serva.

MARCO
Laura, por favor, seja educada!

LAURA
Educada o caralho!

MARCO
Silnete, né?

SILNETE
Isso.

MARCO
Quando pode começar?

SILNETE
Quando o senhor quiser.

MARCO
Por favor, senhor não. Se pudesse começar hoje.

LAURA
Agora, fim da entrevista. Pode sair, serva.

SILNETE
Adoraria!

LAURA
(imitando) “Adoraria, adoraria!” Adoraria o que, sua vaca? Meu marido?

MARCO
Laura, tome mais um remédio! (coloca uma pílula na boca dela) Eu gostaria que começasse hoje mesmo, então.

SILNETE
Certo.

LAURA
(muda a feição para um ar doce) Aaah! Olá? Oi, querido! Fez a barba?

MARCO
Eu nunca uso barba.

LAURA
Cortou o cabelo então. Você está diferente.

MARCO
São seus olhos.

LAURA
Quem é você mesmo? Elizabeth?

SILNETE
Silnete, sua nova empregada.

LAURA
Sim! Sim! Você é o perfil ideal. Onde viu o anúncio? Você lê?

SILNETE
No jornal. Não leio, não, senhora.

LAURA
Sim! Sim! Eu mesma coloquei no jornal. Você é tão bonita, sabia? Vamos nos dar super bem, acredite nisso.

SILNETE
Obrigada. Você também é muito bonita. Elegante.

LAURA
Ah! Obrigada! Nunca me disseram isso antes! Seremos grandes amigas! (abraça Silnete)

SILNETE
Sim. E... as crianças? Onde estão?

MARCO
Foram pra escola. Estudam em período integral.

LAURA
Em período integral? Que absurdo! Desde quando?

MARCO
Desde que estão na escola, querida.

LAURA
Ah, sim o Anderson e a Dayane.

MARCO
Não, querida, eles se chamam Augusto e Davi.

LAURA
Sim, sim. É que um deles parece uma menina. Acho que meu filho vai ser gay, sabe. A Dayane.

MARCO
Que Dayane, Laura! Nenhum deles parece uma menina, não. Os dois são vidrados em futebol, e já até beijam na boca das namoradinhas.

LAURA
Mas torcem pro São Paulo (ri). Fui machista agora. Acho que meu filho vai ser gay, sabe. A Dayane.

SILNETE
Mas isso não é um problema. Hoje em dia...

LAURA
Hoje em dia seu cú! Você diz isso porque não é filho seu! Fêmea passiva! Fui machista agora.

MARCO
Laura!

LAURA
Querido! (pausa) Vou fazer xixi. Já volto!

MARCO
Me desculpe, Silnete, quando é época de TPM as personalidades aparecem mais mal-humoradas. Mas passa, viu?

SILNETE
Marco, certo?

MARCO
Isso.

SILNETE
Desculpe perguntar, mas... quando conheceu ela, ela... já tinha...?

MARCO
Você quer saber se ela já mudava de personalidade com frequência?

SILNETE
Isso.

MARCO
Na verdade, eu só percebi mais tarde. Mas ela sempre foi assim. Pode perceber que eu sou o único que ela nunca esquece. Ela muda e muda de personagens, esquece até dos filhos mas nunca esquece que eu sou seu marido.

SILNETE
Que bonito isso.

MARCO
É. Bonito.

SILNETE
Sim. Deve ser o amor que ela sente por você.

MARCO
Talvez. É... bom, com licença. Eu tenho que ir trabalhar. Tente conversar com ela. Ela vai te explicar o que deve ser feito, ok?

SILNETE
Tudo bem.

MARCO
Até mais. (sai)

SILNETE
Até. (pausa) Gato. (ri e senta-se) Como ele aguenta aquela maluca? Eu daria um trato bem dado. Agora que eu estou aqui, tenho que dar um jeito de acabar com aquela vagabunda. Esse lugar está pequeno demais pra nós três.

LAURA
Pensando em mim, colega?

SILNETE
Não. Pensando...

LAURA
Em que? Em que, hein? No meu marido, né?

SILNETE
Não, Laurinha, eu nunca...

LAURA
Sua cara de santa não me engana, tá? Eu sei que você planeja algo colossal. Algo extraordinariamente mexicano. Diga! Diga-me! Você é de algum órgão governamental, não é? É do FBI? De alguma agência ultra secreta, não é? Diga! Diga-me!

SILNETE
Eu não queria... é que... seu marido é um homem muito bonito, Dona Laura. (ela chora) Perdoe-me. Eu imaginei que eu podia me livrar de você, e ficar com ele. Assim como acontece nas dramaturgias. As injustiçadas e bonitinhas sempre se dão bem, enquanto as peruas malucas voltam para Paris sofrer da derrota. Me desculpe. Por favor.

LAURA
Tudo bem. Ele não é pro seu bico. É bom que agora conheço o caráter que tem. Gosto dessa obscuridade e dessa vulgaridade e dessa inocência falsa. Isso tudo é muito bom que agora já conheço a parte ruim dessa contratação. Precisamos ter aqui uma pessoa esperta, entende, Elizabeth?

SILENTE
Silnete.

LAURA
Que seja. E outra coisa, eu não sou louca, tá? Àquela hora eu comecei a te xingar porque ouvi o Marco chegando.

SILNETE
Como assim...?

LAURA
Não é pro seu bico. Eu finjo esses distúrbios. E nem pense em abrir a boca, se não...

SILNETE
Não, tudo bem. Eu não vou dizer nada.

LAURA
Pro seu próprio bem, entendeu?

SILNETE
Sim.

LAURA
Na verdade, o Marco é louco. Ele tem aquele distúrbio que disse que eu tenho. Se quiser segui-lo vai ver que ele não foi trabalhar. Ele não trabalha, vivemos da aposentadoria de invalidez dele. Às vezes ele acha que é bombeiro, que é gerente de zona, que é vendedor de parafusos, um monte de coisas. Teve uma vez que ele achou que fosse um menino de oito anos. E então, desde que eu comecei à fingir ter a mesma doença que ele, ele não lembra que tem, ele parou. Parou na mesma personalidade que você viu hoje. Calmo, simpático, e que trabalha em uma empresa de contabilidade que não existe. Nem temos filhos, se quer saber. Mas ele acha que temos, então temos. Por isso eu me confundi com os nomes. Ele sempre muda. Ontem era Mohammed e Sahid.

SILNETE
É sério isso?

LAURA
Olha pra mim. Você vai conviver mais comigo do que com ele. Depois você tira suas conclusões. E aí inclui na sua contratação cuidar para que o dia dele pareça normal, entende?

SILNETE
Tipo enfermagem?

LAURA
Tipo enfermagem. Dar remédio e tudo o mais.

SILNETE
Entendi. (pausa) Tem que dar banho também?

LAURA
Só em mim.

(silêncio)

SILNETE
E você se finge de louca por ele?

LAURA
Pois é.

SILNETE
Que lindo.

LAURA
Lindo o que?

SILNETE
O amor de vocês dois.

LAURA
Isso não é amor. É pena. O coitado não tem ninguém.

SILNETE
Deve ser difícil pra vocês dois. Principalmente pra você, que tem que fingir.

LAURA
Difícil nada, eu fiz teatro quando criança. E eu assisto muitas novelas, filmes... Eu sei fingir bem.

SILNETE
Sei.

LAURA
Bom, pode começar pela sala, tá bom? Só tira o pó das coisas, dá uma varrida, depois lava a louça. Eu vou pro cabeleireiro, volto uma seis horas.

SILNETE
Pro banho?

LAURA
Não. Já tomei um anteontem.

SILNETE
Ufa.

LAURA
Tchau! Ah, de vez em quando o Marco volta mais cedo, porque na cabeça dele ele é chefe, e chefe sai a hora que quiser. Até mais.

SILNETE
Até.

LAURA
(sai)

SILNETE
Todo mundo louco! Casa de maluco. (pausa) O que você disse? Eu? Você mesma. Disse que somos loucos, é? Não, senhora, eu... Não me chame de senhora! Tem alguma ruga na minha cara? Me desculpe, eu não quis ser inconveniente. Mas foi. Fora da minha casa! Não quero mais empregada nenhuma! Mas eu preciso desse emprego, dona! Foda-se! Volte a catar latinhas! Voltei, amor! Mas já, Marco? Claro, Laura, eu só tenho olhos para você. Gato. O que disse? Eu disse gato. Cantando meu marido na minha frente, sua vagabunda? Para de ser louca, Laura. Não fale assim comigo, Marco! Me desculpe, Silnete, a Laura tem um distúrbio. Distúrbio tem a sua mãe, aquela lazarenta! Ela tava te cantando! Eu vou embora, vocês dois são malucos demais pra mim mesma. Você tá me chamando de louca? Toma mais uma pílula, amor! (ela se força a tomar um remédio) Não, não! Ah. Viu? Melhorou? Melhorei. Que bom, dona Laura, esse seu jeito me assusta um pouco. Você tá me chamando de louca? Louca é a porra da sua mãe, sua cadela desgraçada!

(black-out)


FIM



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