MAGO PAULISTA

ROTEIRO PARA CURTA METRAGEM

PERSONAGENS
Otávio
Dr. Marcela
Recepcionista
Pacientes
Eduardo, vizinho


CRÉDITOS INICIAIS

COMO SE FILMÁSSEMOS A TELA DE UMA TELEVISÃO, VEMOS IMAGENS DE SUPER-HERÓIS (X-MEN, SUPERMAN, ETC). EM FLASHS, ENQUANTO O NOME DA EQUIPE É APRESENTADA, VEMOS TAMBÉM IMAGENS DE PESSOAS PRATICANDO TELECINESES. VEMOS IMAGENS DA ‘CARRIE – A ESTRANHA’ DE 1976. VÁRIAS IMAGENS CONHECIDAS COM PESSOAS LEVITANDO COISAS E FAZENDO COISAS SOBRENATURAIS. VÊ-SE O NOME DO FILME.

MAGO PAULISTA – O FILME

CENA 1/INTERNA/RECEPÇÃO DO CONSULTÓRIO/DIA

OTÁVIO ABRE A PORTA DO CONSULTÓRIO, A RECEPCIONISTA O CUMPRIMENTA. OTÁVIO ESTÁ BASTANTE NERVOSO E SUADO.

VÊ-SE FLASHS DO CAMINHO DELE ATÉ AO CONSULTÓRIO, BASTANTE PARANÓICO ANDANDO PELA CIDADE, NO METRÔ, OLHANDO NO ESPELHO DE CASA CHOCADO COM ALGUM ACONTECIMENTO SOBRENATURAL RECENTE. VÊ-SE UM COPO QUEBRANDO.

RECEPCIONISTA
A doutora já vai te atender, Otávio. Só um segundinho.

OTÁVIO
Tá bom.

UM DOS PACIENTES RECLAMA COM O OLHAR, SE MEXE INCOMODADO. OTÁVIO SE APOIA NO BALCÃO ROENDO UNHA.

RECEPCIONISTA
Pessoal, a doutora vai atender ele primeiro, porque é uma urgência, tá bom? Vai ser rapidinho.

PACIENTE
Não tem problema.

OTÁVIO
Urgência. Eu. Tô urgente. Vai, então.

RECEPCIONISTA
Você quer uma água?

A PORTA DA SALA SE ABRE E OTÁVIO PULA PRA DENTRO.

CENA 2/INTERNA/CONSULTÓRIO/DIA

DR MARCELA
E aí, Otávio? O que tá pegando? Respira. Fique calmo.

OTÁVIO
Eu vim correndo. Eu tô... eu tô...

DR MARCELA
Me fala.

OTÁVIO
É urgente. Eu cortei a fila daquelas pessoas. Egoísta!

DR MARCELA
Calma.

OTÁVIO
Eu acho que eu não tô preparado. “Grandes poderes exigem grandes responsabilidades”.

DR MARCELA
Não tem problema isso. Você é meu paciente. Eu tô aqui pra te ajudar exatamente nessas horas, Otávio. Aquela peituda só vem aqui pra reclamar do marido, dá pra esperar um pouquinho. Você só precisa me dizer o que foi que aconteceu dessa vez pra você vir correndo assim. O que que foi?

OTÁVIO
Lembra que eu te falei?

DR MARCELA
Sobre o que?

OTÁVIO
Eu sempre te falei! Eu falei que achava que isso pudesse acontecer! As coisas tão correndo com tanta rapidez. (PAUSA) Aconteceu, doutora. Aconteceu. Ó, eu tô tremendo até agora, eu tô todo arrepiado.

DR MARCELA
O que aconteceu?

OTÁVIO
Doutora, você vai achar que eu tô brincando, que eu tô de palhaçada, que eu fiquei mais louco ainda. Mas eu juro por deus, doutora! Eu juro por deus! (CHORA E RI AO MESMO TEMPO)

DR MARCELA
O que foi, Otávio? Pode me falar.

OTÁVIO
Pede pra sua menina trazer um copo de água pra mim?

DR MARCELA
Você quer água? Peraí.

DR MARCELA SAI E LOGO VOLTA.

DR MARCELA
Toma.

OTÁVIO
Coloca o copo aí na mesa.

ELA OBEDECE. OTÁVIO APROXIMA A CARA DO COPO.

DR MARCELA
Você não vai tomar?

OTÁVIO
Fica vendo, doutora. Fica vendo o que eu posso fazer.

ELES AGUARDAM ALGO ACONTECER EM SILÊNCIO.

DR MARCELA
Você vai transformar a água em vinho?

OTÁVIO
Chiu! Presta atenção! Espera, porra. Calma.

SILÊNCIO. NADA ACONTECE.

DR MARCELA
O que você tá tentando fazer, Otávio?

OTÁVIO
(DESISTE) Olha, tá bom! Eu sei que parece mentira, eu sei que parece loucura...

DR MARCELA
Mas não tá funcionando porque você tá tentando mostrar pra alguém, é isso?

OTÁVIO
Eu sei, é clichê! Caralho! Eu juro por deus, Marcela – eu vou te chamar de Marcela agora – eu juro por deus que há umas duas horas atrás eu fiz um copo se levantar com o poder da minha mente, Marcela. Presta atenção...

DR MARCELA
Ok. Eu entendi. Você não precisa tentar me provar que você conseguiu, Otávio. Podemos ficar conversando na fé, tanto eu, como você. Vamo falar sobre o acontecido...

OTÁVIO
Não, se eu não te provo, você vai escrever no seu caderninho pra aumentar a dose do antipsicótico.

OTÁVIO TENTA MAIS UMA VEZ OLHANDO PARA O COPO.

OTÁVIO
Eu sei que parece loucura, mas eu juro por deus. Eu tenho certeza absoluta do que aconteceu.

DR MARCELA
Às vezes a gente quer tanto uma coisa, que no final a gente acredita que tem.

OTÁVIO
A gente acredita que tem e tem? Ou a gente só acredita que tem, e é tudo uma ilusão?

DR MARCELA
No campo da ‘filosofia cósmica’, como você costuma dizer, uma ilusão não quer dizer que seja mentira, não é?

OTÁVIO
É. "Naturalmente está acontecendo dentro da sua cabeça, mas por que é que isto deveria significar que não é verdadeiro?". Alvo Dumbledore.

SILÊNCIO

OTÁVIO
Então qual é o ponto?

DR MARCELA
Exato. Qual é o ponto, Otávio?

SILÊNCIO

DR MARCELA
Se você realmente acredita nesses poderes, Otávio, pois vista uma máscara e saia ajudando as pessoas.

OTÁVIO
Não é tão fácil assim. Você fala assim, como se fosse fácil. Tem um monte de coisa.

DR MARCELA
O que? Começou com um copo, comece a tentar coisas mais pesadas, talvez. Talvez uma pessoa, um carro.

OTÁVIO
Você não acredita em mim. Para de fingir que acredita!

DR MARCELA
Eu acho que isso daqui é um jogo. Entende? A vida é um jogo e a gente tem que lidar com todas essas fases.

OTÁVIO
Cara, Marcela, pode parar com esses conselhos de auto ajuda, cara. Pode parar. Na minha cabeça, mesmo que isso tenha sido ilusão, eu lembro claramente da sensação de fazer aquele copo levantar da mesa. Foi como se eu tivesse fazendo vibrar uma onda de som em volta do copo, aí ele ficou tremendo assim no ar – não era um voo suave, entendeu? – e depois caiu. O que a gente faz? Aumenta a dose do antipsicótico?

SILÊNCIO.

DR MARCELA
Mesmo que tenha realmente acontecido todas essas coisas, Otávio, o que podemos fazer com o acontecido agora? Agora que você já sabe que pode levitar coisas. Bom, o que sabemos? Sabemos então que você é paranormal. Você quer que eu chame os cientistas, que eu chame a mídia? Você quer ficar na surdina, quer descobrir seus poderes sozinho? O que você quer agora que você descobriu ser paranormal?

OTÁVIO
O que você tá fazendo?

DR MARCELA
Eu tô conversando.

OTÁVIO
Eu sei que você não acredita em mim. Você é uma psicóloga, eu tomo remédios de ansiedade desde os doze. Eu sei como é que tá parecendo, uma puta de uma viagem. Para de fazer assim. Não tá funcionando nem um pouco.

DR MARCELA
Então você quer que eu fale o que? Eu não vi você levitando esse copo. E eu nem preciso ver, eu não quero ver. Você não precisa nem provar e nem mostrar nada pra ninguém, Otávio. No que você acha que eu poderia ajudar num paciente que realmente agora levita coisas de verdade? Porra, você é paranormal! Vá salvar o mundo, ou dominar o mundo, sei lá! Por que você veio correr contar pra mim um acontecimento tão grandioso, por exemplo? O que você espera de mim, como sua psicóloga?

OTÁVIO
Eu sou um chato, é isso? (EXPLODE E BATE NA MESA NERVOSO) Eu vou saber o que eu espero? Eu tô aqui porque eu não sei!

DR MARCELA
Não fique nervoso, Otávio. Por favor. Não vamos precisar usar de força, tudo bem? A gente ainda tá se conhecendo, mas eu sei bem do seu histórico. Por favor.

O NARIZ DA DR MARCELA SANGRA.

OTÁVIO
Desculpe. Seu nariz tá sangrando.

DR MARCELA
Oi?

OTÁVIO
Seu nariz.

DR MARCELA
Opa. Nossa. Peraí.

ELA PEGA UM LENÇO. OTÁVIO ESTÁ PARADO EM CHOQUE.

DR MARCELA
Desculpe. Desculpe. Então...

OTÁVIO
Fui eu.

DR MARCELA
O que?

OTÁVIO
Fui eu quem fiz o seu nariz sangrar.

SILÊNCIO

DR MARCELA
(PENSA, MAS CONCLUI COM O ÓBVIO) Boa. Essa foi boa. Essa foi muito bem sacada.

OTÁVIO
Eu juro por deus que fui eu quem fiz o seu nariz sangrar, mas eu não fiz de propósito.

DR MARCELA
Entendi. Vamos supor que sim, então. Foi você que fez o meu nariz sangrar.

OTÁVIO
Foi sem querer, eu ainda não tenho controle direito.

DR MARCELA
Então as coisas acontecem quando você está sob ataque de nervo, é isso? Porque você ficou nervoso, bateu na mesa e aí meu nariz sangrou.

OTÁVIO
Não sei.

DR MARCELA
O que você estava fazendo quando você levitou o copo? Você tava tentando levitar o copo ou estava fazendo outra coisa? Na hora, naquele momento? Tava nervoso?

SILÊNCIO

OTÁVIO
Eu não me lembro. Acho que eu tava assistindo Game of Trones.

DR MARCELA
Tem sentido.

OTÁVIO
(PAUSA) Mas tem uma coisa estranha que aconteceu ontem.

DR MARCELA
Que coisa?

OTÁVIO
Um vizinho meu morreu. O Eduardo. Teve morte cerebral espontânea, no exato momento que eu tomava banho. Eu ouvi a gritaria da família chamando a ambulância.

DR MARCELA
E o que isso tem a ver?

OTÁVIO
Eu me masturbo quando eu tomo banho. Todo homem se masturba.

VEMOS IMAGENS DA MORTE DE EDUARDO, COM SANGUE SAINDO PELO OUVIDO, ENQUANTO OTÁVIO GOZA.

OTÁVIO
Eu tô te dizendo. Você tem que me amarrar, porque se isso sair fora de controle vai dar merda, entendeu? Você precisa me amarrar em algum lugar. Seres humanos são imperfeitos. Agora tudo faz sentido!

SILÊNCIO

DR MARCELA
Você acha que você matou o cara, é isso?

OTÁVIO
Você vai aumentar o remédio, Marcela? Vai precisar? Eu sei que é absurdo! Mas eu não tô tendo controle!

DR MARCELA
Sabe o que eu acho no fundo, Otávio? Você quer saber a minha opinião como Marcela, e não como psicóloga? Eu vou te falar. Eu acho que você é um cara que sabe que está mentindo. Você não está confuso com alucinações nem nada. Você sabe que é mentira, você sabe que está fazendo uma cena, entende? Você não é nem um pouco louco, você é bem lúcido das coisas.

OTÁVIO
É isso que você acha de mim?

DR MARCELA
É. Você é um cara que sabe fingir acreditar nas coisas que diz acreditar. Mas no fundo você sabe que é mentira.

OTÁVIO
Ah, é?

DR MARCELA
É. Você é um puta de um mentiroso, Otávio! Um puta de um mentiroso. Você já pode parar com essa encenaçãozinha, pode parar, que você nunca me enganou. Chega dessa cena. Vamo pra casa crescer, arrumar um trabalho, que já passou do tempo, Otávio, você não acha? Faz quanto tempo que seus pais te pagam terapia? Chega.

OTÁVIO
Para com isso! Por que você tá fazendo isso?

DR MARCELA
Eu tô tentando te provocar, Otávio. Te irritar pra ver seus poderes em ação.

OTÁVIO
Não tem graça nenhuma isso, pode parar. E se eu explodo a sua cabeça, doutora? O sentimento não pode ser de raiva. Olha como você é uma irresponsável! Eu podia explodir a sua cabeça, sem querer!

DR MARCELA
Você não vai explodir a minha cabeça, Otávio.

OTÁVIO
Se eu não tenho controle direito ainda, não é assim que a gente devia começar. Talvez a gente devesse tentar com sensações boas, entendeu? Em vez de raiva. Talvez perder o controle em uma situação boa não seria tão horrível.

DR MARCELA SE LEVANTA E APERTA O PLAY DE UMA MÚSICA NO COMPUTADOR. UMA MÚSICA CLÁSSICA, CALMA.

OTÁVIO
Eu não gosto de música clássica, Marcela. Eu curto um rock.

DR MARCELA
Então vamos pensar em um sentimento bom...

SILÊNCIO. DR MARCELA TEM UMA IDEIA, SE LEVANTA, VAI ATÉ OTÁVIO E O BEIJA SUAVEMENTE NA BOCA. CLIMA DE SEDUÇÃO.

OTÁVIO
Você é uma psicóloga das loucas.

DR MARCELA
Viu? Uma sensação. Nada aconteceu, talvez na sua cueca só. Aqui, nada. Meu nariz pode ter sido uma incrível coincidência, não pode, Otávio? No cálculo das possibilidades, também é possível isso, não é? Eu tenho sinusite, a vida toda. Seu vizinho foi uma fatalidade, Otávio. Aposto que milhares de seres humanos estavam se masturbando naquele exato momento.

OTÁVIO
Pode ser. Ou talvez um beijinho mixuruca desse não cause tanta energia telecinética a ponto de algo super humano acontecer.

DR MARCELA
Ah, é? Mixuruca?

OTÁVIO
Talvez se você me fizesse uma boquete poderíamos tirar a prova. (CLIMA)

DR MARCELA
O que?

OTÁVIO
Uma boquete. Chupar a minha rola.

DR MARCELA
Você tá de brincadeira que você tá me falando isso, né, Otávio?

OTÁVIO
O poder de um orgasmo poderia comprovar o que eu tô te falando. Quer apostar?

OTÁVIO E DR MARCELA SE ENCARAM QUASE POR FORÇA SOBRENATURAL. COMO SE OTÁVIO ESTIVESSE HIPNOTIZANDO DR MARCELA.

OTÁVIO
Você estava certa. Houve movimento na minha cueca. Esse poder todo precisa ser expelido agora, concorda? É da natureza humana, isso tudo. O macho paulista.

DR MARCELA
(GROGUE) O que você tá dizendo? Eu não concordo.

UM SEGUNDO DE CONCLUSÃO MUSICAL E DR MARCELA SE ABAIXA E CHUPA OTÁVIO.

VÊ-SE IMAGENS DO COPO QUEBRANDO, DE EDUARDO MORRENDO, DE OTÁVIO SE MASTURBANDO OLHANDO UMA FOTO DA DR MARCELA.

OTÁVIO SENDO CHUPADO, CONCLUI.

OTÁVIO
Tomara que eu consiga canalizar esses poderes para coisas boas, né, Dr. Marcela. Eu não sou um cara do mau por fazer você chupar meu pau com a força do meu pensamento, sou? Você nem vai lembrar disso. É só um fetiche. Eu tô aprendendo como é que funciona, e cada um com as suas necessidades fisiológicas, não é mesmo? Acho que as pessoas ainda não adquiriram a evolução paranormal exatamente por isso, sabe. As pessoas são burras ainda, ia dar um monte de merda se de repente todo mundo tivesse poder. Poder é uma merda. Eu já reparei que você olhava pra mim algumas vezes, doutora – opa, Marcela, perdão. Você gosta de mais novos, é? Ai, cuidado com o dente. Uma boquete não mata ninguém também, né. (PAUSA) Você estava certa, é tudo encenação, mas eu não sou um cara do mau. Lembra daquela frase? “Com grandes poderes... (ELE GOZA)


CENA 3/FINAL/SALA DE RECEPÇÃO

AO GOZO DE OTÁVIO, NA RECEPÇÃO A RECEPCIONISTA E OS PACIENTES DA SALA DE ESPERA, CAEM DUROS NO CHÃO POR MORTE CEREBRAL, COM SANGUE SAINDO DOS OUVIDOS.

FIM



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